terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Perdão

Perdoar é um troço bem difícil. A gente diz que perdoa, mas o coração segue apertado. Sinal de que não perdoou coisa alguma. Ao longo das últimas semanas, não por acaso após o meu retiro aikidoístisco, meu coração ficou leve. E aí eu me dei conta que finalmente eu perdoei. Perdoei dois homens que foram super importantes para mim neste ano. Um por ter me abandonado. E o outro por não ter me acolhido. Perdoar tem a ver com aceitar. Aceitar a nossa sorte, o que nos é dado e o que nos é retirado. E taí um discurso que é lindo de se fazer: "aceite a vida como ela é". Mas difícil à beça de praticar. Aceitar a rejeição, a negação, o abandono, aceitar aquilo que vai contra o que a gente quer é coisa de mestre. E eu ainda sou aprendiz. Então apanhei um bocado e sofri mais um tanto até que o perdão surgisse de forma natural. Não adianta dizer "eu perdoei" quando lá dentro da gente a dor nos faz meio amarguinhos.

Me lembro até hoje do dia em que perdoei meu pai. Perdoei por ele ser tão nervoso, tão atacado, tão pouco carinhoso, tão difícil de lidar. Eu tinha uns 20 e poucos anos e estava na terapia fazia um ano. Um dia, depois de muito trabalhar a questão com Pedrão, o "sicólogo", eu olhei para ele lá estrebuchando de tão nervoso e pensei: ah, ele tem muitas razões para ser assim. E quer saber? É o pai que tenho. Não é perfeito, mas me ama à maneira dele. Depois disso, nossa relação mudou muito. Claro que ainda tenho vergonha de quando ele grita com as pessoas sem necessidade. Mas depois de aceitar, perdoei. E passei a viver pacificamente com a questão.

Mas o grande lance do perdão, a parte mais difícil, é perdoar a si próprio. Enquanto a gente acha que fez tudo errado e carrega a culpa do mundo nas costas, fica complicado se perdoar. Quando a gente percebe que fez tudo o que queria e seguiu o coração, não há mais culpa nem dor. Só a imensa alegria de se sentir demasiado humano. E saber que o amar, o sofrer e o perdoar faz parte do pacote "vida" que nos entregaram logo após o primeiro grito na maternidade.

Eu não sou católica. Curto uns santos, umas preces, e levo uns leros com o Todo Poderoso. Mas acho que perdoar nada tem a ver com religião. E a gente tende a entender o perdão com aquela visão de Jesus Cristo todo perfurado, com uma coroa de espinhos, apanhando pacas e sendo humilhado - e "perdoando a todos" por tudo aquilo. Esse tipo de perdão - com o perdão dos católicos - é quase um masoquismo. Para mim, perdoar tem a ver com viver, experimentar, se entregar, se doar. Tem a ver com sentir raiva, mágoa, tristeza. Tem a ver com ser humano, e não santo. Perdoar é um ato de humanidade, integridade e de maturidade. Mas não tenha pressa. O perdão vem com o tempo. E quando ele aparece, é uma sensação de paz indescritível.

Débora - A Descasada

22 comentários:

Lari (larissakarvalho@hotmail.com) disse...

EMOCIONAAAAAAAAAAAANTE SEU TEXTO!!!

Ameeeei e já sei que esse vai estar entre minhas repetitivas e cada vez mais proveitosas leituras diarias!

Como aqueles outros posts seus que já te disse que releio quase que diariamente... :')

Suas palavras me deixam mais humana... mais madura talvez... e o que é mais importante, me deixam com a sensação de que eu não sou a pessoa tão "errada" que eu penso!

Fico muuuuito feliz por você ter conseguido essa paz de uma forma tão ampla... concordo com vc, e tbm acho que perdão não tem nada a ver com santo não... mas é incontestável que a alma da gente é q mais sente emoções como essa!

3 bjos

27 de outubro de 2009 às 12:49
Ricardo Suman disse...

LINDO post, minha guerreira amiga. Tenho certeza que servirá muito para todos seus leitores, e espero que cada um consiga achar a paz que vc achou (mas espero que não precisamos ir ao gashuku para isso).

Adoro vc e seu brilho!!!

27 de outubro de 2009 às 12:53
SAL disse...

Perdoar é mesmo uma dadiva... independente se vem do divino ou do profano!

E realmenteeeee, perdoar a si mesmo é o primeiro passo!

Eu sou fã desse blog!!!

27 de outubro de 2009 às 13:32
Andarilho disse...

Esse negócio de perdoar definitivamente não é comigo.

27 de outubro de 2009 às 13:51
Anônimo disse...

Adorei tudo,foi linda a sua descricao de perdao.
Perdoei algumas pessoas e outras preciso deixar o tempo me ensinar a perdoa-las.
Assino embaixo,nenuma familia é perfeita,minha mae me tira do serio,mas amo ela do mesmo jeito.

Bjaum flor

27 de outubro de 2009 às 15:15
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Lindo texto, amiga, lindas reflexões. Amei.

Um dia eu chego lá. Já cheguei algumas vezes, na verdade, hahaha!!!! Mas ainda há mais para chegar.

Beijão,

Bela - La Divorciada

27 de outubro de 2009 às 15:45
Curumim disse...

Eu sei q meus pais são como são pela vida q tiveram. Pena q isso não me basta para não guardar mágoas. Mas tenho trabalhado para achar outros caminhos.
Descasada, minha cara ordinária, feliz de quem sabe perdoar como vc.
Obrigado!
Bjos,
Curumim

27 de outubro de 2009 às 16:27
Nina disse...
Este comentário foi removido pelo autor. 27 de outubro de 2009 às 17:08
Beta disse...

Achei vocvês através do blog do Andarinho. Adorei... voltarei com calma para degustar a leitura.

beijocas,
Beta.

27 de outubro de 2009 às 17:30
Tânia Tiburzio (TT) disse...

Que lindo! Adorei o texto!

27 de outubro de 2009 às 17:38
Clarissa B. disse...

Acho que perdão tbm tem muito de "esquecer", deixar pra lá... aconteceu, vamos aprender com isso e viver...

Cada pessoa tem uma forma de perdoar... basta que seja verdadeiro, de coração...

Bjo.

27 de outubro de 2009 às 19:45
g e r a disse...

Eu tenho uma teoria,
" Guardar rancor da rugas"!rsrsrsrs
Muito bom mesmo esse texto.
Pai e pai e bem como voce falou eles amam do jeitinho deles. A gente tem que aceitar como eles sao, guardar as coisas boas e jogar fora as ruins.....
Saudacoes,
g e r a

27 de outubro de 2009 às 21:04
.Olívia T. disse...

Sou eternamente sua fã!!!

Vai com tuuuuuudoooo

27 de outubro de 2009 às 22:22
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Dé,
difícil falar algo mais do que os comentários já escritos. O perdão é um ato definitivo e assumi-lo de corpo e alma nos torna melhores. Parabéns pelas palavras.

Para escrever desse jeito, a senhorita já deve ter transformado em fumaça muita coisa que te aborrecia.

beijo carinhoso, Gio

27 de outubro de 2009 às 22:57
Nina disse...

Bela reflexão.

Eu acho mais fácil perdoar o outro que a mim mesma, sabe?
Aos trancos e barrancos, aprendi um pouco de desapego... O que não me deixa é o desassossego.

beijo!

(apaguei o comentário anterior porque havia escrito exatamente o contrário do que quis dizer!!)

28 de outubro de 2009 às 07:13
Tati disse...

Não consigo perdoar, pq fiquei sem respostas. Sabe qdo vc faz pelo bem, e as pessoas dão um giro 360 e vc sai da estória como a bruxa malvada e sem direito de defesa. Mas como disse um comentário perdoar é parecido com esquecer, vou deixando o tempo mostrar. E mesmo este tempo mostrando q eu não estava tão errada assim as pessoas não dão o braço a torcer, mas ai já é problemas delas, né?
Pelo menos é assim q eu tento pensar!!

28 de outubro de 2009 às 08:44
Roberta disse...

só acredito vendo Dona Isabela!

Beijos Meninas

ps: lindo texto Débs

28 de outubro de 2009 às 10:22
Cadinho RoCo disse...

O perdão é atitude de crescimento, superação.
Cadinho RoCo

28 de outubro de 2009 às 19:37
Silvia disse...

O q. faz um gashuku (gente, é tipo uma imersão da arte marcial aikidô )!!!!!!!!!!cada um encontra o q. vai buscar e no fundo , se encontra!
Lembro tão bem do meu 1o., chorando copiosamente nos braços de quem eu não conhecia e me acolheu....tinha acabado de me separar...Depois ,
" tantas águas rolaram , tantos homens me amaram, bem mais e melhor do q. vc! " . Esta é a melhor frase sobre perdão q. possa existir. Salve o tempo-rei!

28 de outubro de 2009 às 21:47
Paulinha Costa disse...

Seu texto me fez lembrar do dia que perdoei a minha mãe. Ela teve seus motivos para se tornar o que é, como a gente, só cada um sabe das pingas que tomo e dos tombos que levo. Eu liguei pra ela e falei pela 1a vez que a amava e que a perdoava. Foi muito bom, depois disso nossa relação melhorou em 100%, eu diria até que começou ai uma nova relação. O perdão liberta realmente

28 de outubro de 2009 às 22:58
Anônimo disse...

Olá!!!!
Bom texto, bem escrito, parabéns!!!!

Penso que perdoar seja tão importante como amar. Penso mais: talvez o perdão seja "filho" do amor.

Porque quem perdoa, aprende a amar a vida e aceita o que ela traz, aprende a amar aos outros, porque os aceita como são e o que podem lhe dar ou não!

E quem perdoa a si mesmo, realmente se ama, aceitando suas qualidades e limitações, porque é simplesmente um ser humano mesmo!

É que costumamos ter a expectativa em relação às atitudes alheias e a coisas externas!

Não é fácil esquecer aquilo que te fizeram, mas pode ser que perdoando, você se torne um ser humano melhor, livre de qualquer ressentimento, raiva, mágoa ou revolta e expectativa.

Em suma, perdoar pode te fazer feliz de verdade, ter paz de espírito que tanto buscamos!

30 de outubro de 2009 às 12:24
Redneck disse...

Oi Débora, uma coincidência enorme (ou não, vai saber) me trouxe ao seu blog: por conta de um seguidor meu que segue o seu blog cheguei aqui ao clicar nos blogs por ele seguidos. E aí me deparei com você. Não sei se você se lembra de mim. Sou o Sérgio, escondido atrás do nick pelo qual assino o meu próprio blog. Comecei a ler alguns posts por aqui e cheguei neste que, particularmente, me atinge porque há muita semelhança entre o seu relato e a minha vida. E concordo perfeitamente com você, sobretudo quando você fala de perdoar a si mesmo e até mesmo poder sentir que, enfim, se está liberto. Também eu, em duas, e não uma, convergências com seu texto, passei por situação similar. E, ao contrário de você, não perdoei. E isso me corrói por dentro ainda. Tenho consciência de que o fato de não perdoar está em mim. Mas, pelo menos até agora, não consigo perdoar. E, ao fazer isso, não me perdoo também. É difícil isso, não? Enfim, não pretendia fazer do comentário um lamento mais foi o que saiu. Espero que você se lembre de mim que já até cozinhei para você. Um beijo!

30 de outubro de 2009 às 18:31