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Meu casulo tem vista para o mar

Aprendi isso no meu grupo de meditação. O casulo. Esse lugar igualmente confortável e tenebroso. Mais popularmente conhecido como “zona de conforto”. Quem não tem seu próprio casulo? Desde que me joguei na deliciosa jornada de tentar conhecer a mim mesma, comecei a criar consciência de quais seriam os meus casulos.


Tenho, e tive, vários. Já tentei me esconder neles várias vezes. Por puro medo, claro. No livro “Shambhala – A Trilha Sagrada do Guerreiro”, do monge budista Chögyam Trungpa (nossa referência constante na meditação), há um capítulo todinho dedicado ao casulo. Diz o autor: “O caminho da covardia consiste em nos embutirmos num casulo, dentro do qual perpetuamos nossos processos habituais.


Reproduzindo constantemente nossos padrões básicos de conduta e pensamento, jamais nos sentimos obrigados a dar um salto ao ar livre ou em direção a um novo campo”. O casulo traz, como ele mesmo diz, aquela sensação gostosa e segura do ventre materno. Estamos protegidos dos perigos do mundo, sem perceber o perigo disso.


Creio que foi com medo de “encasular” que criei o hábito de me jogar por aí: pedir demissão, ficar sem dinheiro, ficar sem casa, ficar sem rumo. Só que nossa mente, zás-trás, cria casulos sem a gente nem perceber. Outro dia me peguei caindo da cilada do ciúme, do medo da perda, do apego, das certezas reconfortantes. Que ingênua. Ali estava eu de novo, tão corajosa e igualmente medrosa.


A verdade é que os casulos sempre hão de pintar por aí. Assim sendo, tá decidido. Meus casulos sempre terão vista para o mar (ou para a Serra da Cantareira, como de fato tenho), que é para eu jamais esquecer do horizonte, da brisa, do cheiro de sal e do desconhecido.


Débora – A Encasulada

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