quarta-feira, 20 de abril de 2011

Bons, mas tristes ares

Fui para a Argentina pela primeira vez na semana passada e encontrei uma Buenos Aires muito diferente da que os amigos comentaram antes da minha viagem. Sim, come-se e bebe-se bem por um preço menor. Sim, compra-se artigos de couro mais baratos (tudo é mais em conta já que o real vale o dobro que o peso). E, sim, lugares como Puerto Madero e a feira de San Telmo são mesmo inesquecíveis. Ah, e, sim, los argentinos son muy guapos. Mas voltei triste e decepcionada da viagem e enxerguei em apenas três noites e três dias o que significa viver em um país que há décadas enfrenta governos corruptos e populistas e sofre com a inflação, o empobrecimento da população e o descrédito no mercado internacional. Semelhanças com o Brasil de muito pouco tempo atrás não são mera coincidência, mas um câncer em constante metástase em toda a América Latina.

Nem mesmo o entorpecimento em meio a alfajores, parrilas e vinhos me impediram de perceber as ruas completamente desertas no Centro depois que anoitece (por isso, me olhavam com tanta estranheza ao circular por lá), as vendinhas de rua comercializando suas mercadorias através de uma grade à noite, as filas imensas para se tomar um ônibus (mesmo fora do horário de pico) e os mendigos vasculhando os cestos de lixo em toda esquina. Nas lojas, balconistas te aconselham a tomar cuidado com a bolsa.

Teriam sido somente observações de uma turista mais atenta se estas feridas abertas não tivessem sido esfregadas na minha cara e da minha amiga Carla (aquela do post da melhor amiga) durante os três dias. Já na ida do aeroporto para o hotel, caímos no golpe do troco (aliás, foram dois golpes, porque chegamos em voos diferentes, portanto, pegamos táxis separadas). O primeiro prejuízo. Quando estávamos quase perdoando os taxistas por viverem em um ambiente de salve-se quem puder a ponto de usarem o ofício para agir criminosamente, outro golpe nos abalou e entristeceu. Um puguero (batedor de carteira) roubou a carteira da minha amiga em uma feira de rua. Mais prejuízo, mais transtorno.

O que trouxe de bom na bagagem foi poder desabafar no ponto de táxi do aeroporto na volta. Sim, rodamos a baiana lá e até a polícia veio ver o que acontecia. Pelo menos alguma coisa ficou registrada e, quem sabe, algum outro turista desavisado não sofra o mesmo que a gente. Além de paisagens bonitas, algumas pessoas valeram a pena também. Uma professora de tango no hotel, um panamenho sozinho na noite, uma família de nordestinos bem feliz, um camareiro prestativo. Espero que nas eleições presidenciais deste ano os argentinos possam eleger pessoas que, como o nome da capital já diz, lhes tragam melhores ares.

Patrícia - A Solteira

11 comentários:

Andarilho disse...

Se eu não tinha interesse em conhecer Buenos Aires antes, agora é que não vou mesmo.

20 de abril de 2011 às 08:45
Nina disse...

E o pior é que essa situação perdura há muitooooo tempo! Desde que estive em Buenos Aires pela primeira vez, a coisa só fez piorar.

Uma pena, porque a cidade é realmente linda, um dos poucos lugares que conheço (como o Rio e Santos, no Brasil) em que os idosos estão em todos os lugares, a qualquer hora, o que eu acho sempre indicativo de qualidade de vida.

Bjo!

20 de abril de 2011 às 09:39
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor. 20 de abril de 2011 às 12:25
Vanessa Sergente disse...

Triste né, a gente acaba esquecendo até as coisas bonitas que se tem. Uma amiga que esteve la a pouco tempe me disse que andou la como anda no Rio, segurando bolsa, olhando para os lados, ou seja, estres total. Assim perde-se a graça de ir pra qquer lugar né. Ótimo Post...como sempre. bjos

20 de abril de 2011 às 12:25
Kilson disse...

Lembra muito "as Veias Abertas da America Latina" de Eduardo Galeano.

20 de abril de 2011 às 12:30
Bruna Angeli disse...

Pois é, Buenos Aires está(va) nos meus planos para a próxima viagem, mas o que me causa medo é esse lado trash da Cidade, muito triste td isso, o descaso político...
Acho que vou repensar meu roteiro e aproveitar melhor as minhas milhas!
É mesmo assustador,confesso que tenho receio tb de visitar o Rio, apesar de Vitória tb não está lá nenhum paraíso pra viver!

20 de abril de 2011 às 13:24
João do Espírito Santo disse...

Olá,

passei março todo em Buenos Aires. Estudando espanhol e trabalhando - a empresa para qual trabalho tem uma filial lá.

Foram razoavelmente simpáticos. Não são tão calorosos como nós mas há povo mais hospitaleiro que o nosso? Descobri que eles não tem piadas de brasileiros. Também descobri que é muito diferente falar espanhol. Pensava que sabia algo e não sabia nada.

Tive mais sorte, não tive problemas com crime. Eles tiveram uma 'noite cultural' e teve muito menos encrenca que aqui em SP. Entretanto fiquei atento quando andava na rua ou calle Florida como faço quando ando na rua Direita em São Paulo.

Transporte baratíssimo. Vale a pena pegar onibus e o subte (o metrô deles) durante o dia. A noite, taxi.

Nos cafés e restaurante é tradição deixar propina, ou melhor, gorjeta. Ela não vém na conta. Não é obrigado mas dar é muito feio. Lá até as pessoas pobres deixam.

Se pudesse definir Buenos Aires usaria duas palavras: romantica e nostalgica. Uma cidade ótima para namorar (quero voltar acompanhado para lá) e nota-se que já foi muito rica mas que hoje esta não tem o mesmo poder financeiro.

Ah! Só uma dica: quem for não se esqueça de comer as maravilhosas medialunas e ir a uma milonga (lugar onde se dança tango e é bem melhor que apenas assistir a um show de tango).

Abs!

20 de abril de 2011 às 18:36
Isa disse...

Ah João, concordo com vc! Nostálgica e romântica, e eu também quero voltar (bem) acompanhada para lá.
Patrícia, sua amiga não foi a única. Uma ida ao consulado me fez ver que é um ato cotidiano. Quantos já não perderam o voo, pq foram furtados e ficaram sem o papel da imigração, documentos e dinheiro. A polícia faz o registro, mas não sei se serve pra muita coisa. Os furtos são diários, no aeroporto, na calle Florida, na Galeria Pacífico, em qualquer lugar a qualquer hora.
E a noite é bem como vc descreveu, ruas desertas, hotéis com o portão fechado com cadeado. E os taxistas, o que falar???
Ainda assim, gostei muito de conhecer Buenos Aires, há boas pessoas, lugares lindos e muitos brasileiros! rsrsrsrs
Descobri que a maior parte dos que me trataram bem, não eram argentinos. rsrsrsr
Reforço o conselho do João, saboreiem as medialunas e acrescento, vale a pena um sorvete freddo! Não esqueçam do tango! Uma sedução em forma de dança...
Boa viagem aos que forem para lá e tomem cuidado com a bolsa!!!
Bjs
Isa

21 de abril de 2011 às 00:51
Tati disse...

Curiosidade: Que golpe é este do troco?
Não tenho planos de ir para lá, mas prevenção é tudo =)

21 de abril de 2011 às 11:52
Unknown disse...

BsAs é mesmo linda e eu voltaria lá com toda certeza do mundo! Mas vamos concordar que toda grande cidade, principalmente as turísticas, têm problemas. Eu também caí no golpe do troco na minha primeira noite lá (Tati, o golpe é o seguinte: vc paga um taxi ou uma loja com uma nota grande de 50 ou 100 pesos. O golpista pega sua nota, finge procurar troco e te devolve uma falsa, dizendo que não tem dinheiro pequeno pra te devolver. No meu caso, além da nota de 50 pesos, fiquei também sem 30 reais) e tive vontade de derrubar a cidade! Então eu acho que o negócio é escolher bem onde se vai, tomar muuuuuito cuidado por onde se anda e todas as outras precauções que, quando não está de férias, a gente toma por aqui...
Mas que o país merece um governo melhor... disso eu não tenho dúvidas!!!

Beijos!
Carol Mendes
tresmulheresemuma.blogspot.com

26 de abril de 2011 às 00:58
Tati disse...

Obrigada, Carolina. Espertinhos los hermanos..rs.
Ai, mas se isto acontece aqui, eles publicam até em jornal! Bom saber.

4 de maio de 2011 às 17:30