sexta-feira, 13 de abril de 2012

A pior geração de mulheres


Que mulher nunca se pegou pensando “e se eu tivesse nascido em outra época, como seria?”. Tendemos a achar que qualquer outra época, por mais romântica que fosse, devia ser um fardo para as mulheres, sempre privadas de liberdade. Somos sortudas de vivermos agora. Quando penso sobre qual época foi a pior de se viver, não vou muito longe. Acho que foi a da geração da minha mãe.

Desculpa, mamãe (ela sempre lê esse blog), mas é verdade.

Analisem só. Essa geração, entre 50 e 60 e poucos anos, se viu entre dois paradigmas fortes e opostos: elas tinham que ser independentes financeiramente. Foram, em massa, para o mercado de trabalho e se dispuseram a ser como homens no front. Fortonas!

Por outro lado, foram ensinadas pelas nossas vovós, mães delas, que elas deveriam ter um macho para chamar de seu. E, o pior, um macho só a vida todinha! “Casamento é para sempre!”, ouviram da mãe, do pai, do padre, da vizinha. E ser “solteirona” era quase pecado. Para piorar, essa escolha tinha que ser feita muito cedo. Afinal, 25 já era idade considerada velha para casar. E assim elas se tornaram dependentes emocionalmente.

Que conflito imenso esse de ganhar seu próprio dinheiro, mas ter que ser dona de uma casa, cuidar dos filhos e ser quase uma serva do marido.

Não é à toa que vemos agora uma horda de cinquentinhas e sessentinhas se separando e descobrindo que há vida fora do casamento. Ou que, com os filhos, crescidos, permitem-se viver além dos muros da vida doméstica e das asas do marido. Elas ganharam dinheiro, afinal. Podem ser livres.

Claro que nós, trintinhas e quarentinhas, herdamos fortemente os dois paradigmas: da independência financeira e do príncipe encantado. E tendemos a repetir padrões. Mas conseguimos ir um pouco além. Vemos outros caminhos, novas possibilidades, nos permitimos mais. Não sem certo sofrimento, claro.

E os homens de hoje também já não são tão ambíguos como os nossos pais. Muitos desses homens mais velhos eram revolucionários fora de casa – contracultura, contraditadura, contracensura – e grandes canalhas machistas e repressores dentro de casa.

Honestamente? Acho que foi essa a pior geração de mulheres. Elas sofreram mais para que nós pudéssemos ser mais livres. Graças a elas, buscamos a independência financeira sem ter que parecer homem e acreditamos muito mais no amor que no casamento (no fundo, somos uma geração muito romântica).

Obrigada, senhoras!

Estamos sempre abrindo novos caminhos para as novas gerações. E não duvido nada que as meninas que têm, hoje, dez anos, um dia sintam pena da vida que a gente levou.

Débora – A Divorciada

4 comentários:

Andarilho disse...

Ainda acho que a idade média, com mulheres "bruxas" sendo queimadas vivas ainda era pior...

13 de abril de 2012 às 09:04
João El Helou disse...

Débora e seus textos sempre apaixonantes e verdadeiros!

13 de abril de 2012 às 12:56
Giselle Mota disse...

Deb, perfeito! Amei o texto!
Tenho pena da geracao das nossas maes tb e acho que as meninas de hj, terao pena de nos...pq, conquistamos mais direitos, mas acho nossa geracao BEM sobrecarregada...Para ser boa profissional, boa mae, boa esposa, gata, gostosa, depilada...rsrs
Tem que estar com tudo em cima! Acho que a mulher conquistou, mas perdeu um pouco a mao ai...quem sabe na proxima geracao ja nao equilibra melhor??!! Beijos

14 de abril de 2012 às 07:10
Evelin disse...

Minha mãe sempre me disse para ser independente e que homem só atrapalha. Acredito nisso até hoje rsrsrs

Mas, concordo com Andarilho, mulher sendo queimada por ser taxada como bruxa, bem complicado.

Também concordo com Giselle, vamos esperar por uma geração melhor.

bjs

Evelin

14 de abril de 2012 às 09:17