quarta-feira, 2 de março de 2011
Os navios do meu avô
Quando Vovô Miguel deixou Arapiraca, e a casa onde criou os oito filhos, para morar em Maceió com Tia Leda, há quase 14 anos, todo mundo se perguntou se ele ia reagir bem. Se não ia sentir falta das raízes, do agreste, dos irmãos, da feira, da vida que levou até os 73. Qual o quê, o banzo foi zero. E as águas verdes da Praia da Jatiúca, onde vive Tia Leda, passaram a ser a sua maior referência.
Uma década depois, mais ou menos, a casa dos meus pais passou a ser o endereço do protagonista desse post. Lá ele teria mais espaço, sua rede na varanda, uma mangueira para tirar manga no pé e Quitéria, a asssistente da minha mãe, ao alcance de dois dedos de prosa quando os demais moradores estivessem na rua.
Cena 3, janeiro de 2011. Painho e mainha se mudam para um apartamento, por motivos de ordem prática de simplificação da vida. Vovô não deixou de protestar (acho que o DNA da causação está nos genes dos Pereira, pelo menos dos meus Pereira): “Como vocês vão deixar uma casa dessas para ir morar numa gaiola, num apartamento?”, “Morar numa prisão?”, “Eu não vou querer ir para lá”.
Fevereiro de 2011, final de semana passado, direto da varanda do apê dos meus pais, Vovô Miguel não larga sua rede amarela por nada no mundo. E, quando em quando, vai chamar Quitéria na cozinha para mostrar o última embarcação que atracou no porto, que ele vê de longe, do alto (a mesma vista da foto acima). “Venha ver os meus navios, Isabela, nesse instante parou um bem grande”, me disse ele no sábado. Lembranças da casa velha? “Não, aqui é que bom, tudo moderno, ficou bonitão o apartamento”. Morta de saudade, não consigo esquecer da imagem dele sorrindo, com aqueles olhinhos brilhantes a me lembrar que flexibilidade, resistência e bom humor ajudam a gente a ser feliz dos 8 aos 86.
Isabela – A Divorciada
Uma década depois, mais ou menos, a casa dos meus pais passou a ser o endereço do protagonista desse post. Lá ele teria mais espaço, sua rede na varanda, uma mangueira para tirar manga no pé e Quitéria, a asssistente da minha mãe, ao alcance de dois dedos de prosa quando os demais moradores estivessem na rua.
Cena 3, janeiro de 2011. Painho e mainha se mudam para um apartamento, por motivos de ordem prática de simplificação da vida. Vovô não deixou de protestar (acho que o DNA da causação está nos genes dos Pereira, pelo menos dos meus Pereira): “Como vocês vão deixar uma casa dessas para ir morar numa gaiola, num apartamento?”, “Morar numa prisão?”, “Eu não vou querer ir para lá”.
Fevereiro de 2011, final de semana passado, direto da varanda do apê dos meus pais, Vovô Miguel não larga sua rede amarela por nada no mundo. E, quando em quando, vai chamar Quitéria na cozinha para mostrar o última embarcação que atracou no porto, que ele vê de longe, do alto (a mesma vista da foto acima). “Venha ver os meus navios, Isabela, nesse instante parou um bem grande”, me disse ele no sábado. Lembranças da casa velha? “Não, aqui é que bom, tudo moderno, ficou bonitão o apartamento”. Morta de saudade, não consigo esquecer da imagem dele sorrindo, com aqueles olhinhos brilhantes a me lembrar que flexibilidade, resistência e bom humor ajudam a gente a ser feliz dos 8 aos 86.
Isabela – A Divorciada
20 comentários:
Lindo, Bela.
2 de março de 2011 às 00:38Dê um abraço em seu avô, diga que foi uma menina do sul que mandou, e o parabenize por apreciar as coisas da vida atracando no porto.
su-poucoacucaremuitosal.blogspot.com
Isso sim é saber viver o presente - e todos os presentes que o momento traz!
2 de março de 2011 às 11:32Quero conhecer essa vista tb!!
=D
beijão
dé
Aí sim, heim, Bela! rs
2 de março de 2011 às 12:36Adorei o vovô, muito fofo! rs.
Um beijo pra ele, pra você... =D
A gente sempre acha que não consegue se adaptar com as mudanças...
2 de março de 2011 às 13:21Mas as vezes nós mesmos nos surpreendemos!!
Mto booom
.Olívia.
Lindo texto, sensível na medida, gostei muito. Sou fã de vovô Miguel, desde que o conheci. Ele sim, sabe das coisas...
2 de março de 2011 às 14:03Beijos do Guarda Belo
Esse homem ensina é muito mais hoje do que nunca!!! É uma criança linda, fofa e boa de abraçar e sentir todo o carinho e amor que tem pela vida. Um homem que vai está marcado em mim por toda a minha vida. Valeu maninha, por expressar tamanho carinho em um texto tão bonito.
2 de março de 2011 às 15:09Benção Vô ?!
Felipe Barros
Isso aí Bela e Lipe, vovô Miguel, o avô mais lindo e o mais amigo...
2 de março de 2011 às 15:33(e quanto a causação dos Pereiras, tenho que concordar)
Beijos, Mariana.
Muito bom texto, Isabela!
2 de março de 2011 às 16:22Como já ouvi seu avô falar esse tipo de coisa, não consigo ler o texto sem lembrar das expressões e da voz dele! É uma grande figura, sem dúvida!
Beijo!
Lauro
Tem selo procêis lá no meu blog!
2 de março de 2011 às 17:43su-poucoacucaremuitosal.blogspot.com
Eu também tenho uma rede amarela. E espero me encantar com as mudanças até os 80 em vez de viver da saudade do que passou. Parabéns aos Pereira.
2 de março de 2011 às 19:17Bjs da Solteira
Bela, amei seu avô!
2 de março de 2011 às 20:47Minhas avós que não me ouçam, mas eu sempre fui mais fã dos meus avôs...
Hoje só tenho um vivo. Sr. Braga! Um fofo! Amo de paixão! 83 anos e praticamente recém curado de um Câncer de Intestino que descobriu há menos 1 ano. Em nenhum momento ele reclamou, ou se lamentou. Antes, durante e após a doença. Quando ligo, sempre me atende com uma alegria imensa e é incapaz de reclamar de algo. Apenas diz: "Que saudade, minha neta! Está tudo bem aqui! Fica com Deus!".
Enfim...
A forma de enxergar as transformações da vida é que define o quão bem iremos vivê-la!
Beijocas!
Papai,vovô Miguel,o amigo Miguel Curi é um exemplo de determinação,simpatia,graciosidade,presteza...Vencedor do tempo,86 anos adquiridos com lucidez,exemplo de honestidade e paz,orgulho de todos,exuberância e exemplificação do amor.Que mais navios sejam atracados e pormenorizados na visão de um homem do bem,que incorporou a mudança do tempo e evoluiu.beijos da tia Tania
2 de março de 2011 às 20:53~^
Lindo texto, Bela!
2 de março de 2011 às 20:55E a fofice dos comentários ao post só não supera a do próprio Vovô Miguel! rsrs
Quantas saudades do meu avozinho! Como é maravilhoso termos vovôs que enchem as nossas vidas de ternura, iluminando-as com a sua sabedoria e serenidade!
Muitos beijinhos para o trio e, é claro, para o grande protagonista do post!
Uma "prisão" com uma vista dessas, eu hein? Tô dentro! ;)
2 de março de 2011 às 23:20No seu belo texto você conseguiu descrever a personalidade maravilhosa de um homem bastante espirituoso e amado por todos os netos. Na minha memória, lembro sempre de um pai mais risonho do que triste. Sua alegria nos contagia sempre.
3 de março de 2011 às 00:03beijos,
Tia Erilene
Isa, pudera eu sair do Rio, desembarcar no porto, em um dos navios do seu avô, e ter uma boa prosa com ele.
3 de março de 2011 às 03:56Quando puder dê um abraço apertado nele!
Adorei o texto.
Bjs
Bela! Quem diria o vovô Miguel se adaptando maravilhosamente bem! Eu que o diga! Quantas vezes o peguei mal humorado, com aquela cara emburrada pois os dias estavam contados para a mudança!!! Por vezes a cena de triste se tornava cômica! Uma verdadeira criança que mais parecíamos estar retirando o doce da boca! Muito feliz por vê nosso avô contente,e, mais ainda saber que jamais faltarão navios para tornar todos os seus dias mais e mais felizes. Saudades d vc. Beijão Thaísa
3 de março de 2011 às 11:41ah, Bela! que fofura deve ser esse Vô Miguel! Enche ele de beijos!
4 de março de 2011 às 16:25Adorei a iniciativa, prima!!!É difícil mesmo falar deste avô maravilhoso. Fácil é amá-lo por tudo o que ele é e representa para nós,com a sua simplicidade e alegria contagiante.Certamente desejo que meu bebê herde esses valores que só mesmo um GRANDE homem é capaz de ter...Amamos muito esse "garotinho".Saudades!Beijos e seja muito feliz. Lorena.
13 de março de 2011 às 20:07Postar um comentário