quarta-feira, 9 de maio de 2012

Eu escolhi ter tempo


Eu não me identifico com as mulheres citadas nas revistas femininas. Eu não acordo de madrugada para malhar antes de ir para o trabalho. Não estou cercada por uma legião de babás e empregadas. Aliás, eu sequer tenho filho. As mulheres das revistas sempre têm. Também não tenho que rebolar para manter a “chama acesa da paixão” no meu casamento. Até porque não sou casada. Não sigo aqueles manuais de como conquistar mais espaço, e aumento, no trabalho porque já não tenho mais emprego. Não visto aquela calça incrível de R$ 500 que a Lola publica em um lindo editorial de moda coloridérrimo porque com R$ 500 eu pago meu aluguel. Eu não sou essa mulher enlouquecida, multitarefa, workaholic que se orgulha de ser assim e que adora pontuar as conversas com a frase: “É que eu não tenho tempo”.

Eu já quis ser assim. Porque me parecia o único caminho possível, o certo a se fazer. E o único digno de admiração. Mas, de uns quatro anos para cá, eu fui percebendo o que eu queria. E eu queria ser amiga do relógio. Meu mantra é o reverso do chavão: dinheiro, para mim, é tempo.

Descobri que apesar de aparentemente agitada e afobada, gosto é de fazer as coisas devagar. Não me entendo com a boiada que anda frenética pelas estações do metrô de São Paulo. Acho minha vida social suficientemente intensa – e acho que poderia até reduzi-la. Gosto de tomar café da manhã com calma, parar para almoçar e jantar. De preferência com boas companhias. Faço minha própria faxina, preparo a minha comida, pago minhas contas, resolvo as pendengas da minha empresa e, duas vezes por semana, paro tudo para fazer yoga ao meio-dia. Ah, sim, e também trabalho. Evito pegar muita coisa ao mesmo tempo para não pifar. Para tudo isso é preciso ter tempo. E, mesmo assim, às vezes me atraso.

Vivo com pouco, mas com conforto. Vivo sozinha, mas sempre acolhida. Não tenho muito dinheiro, mas não tenho dívidas. Não sou magra, mas sou saudável.

Às vezes me questiono se não escolhi a rota errada. Se não era para ser mais. Mais ambiciosa, mais poderosa, mais gostosa e mais rica. Se já era hora de ter meu próprio apartamento e manter o padrão de vida alto, como um dia já foi. Se os outros não acham que eu sou uma grande preguiçosa, afinal, eu prezo o tempo.

Esse pensamento, ainda bem, passa rápido.

Talvez um dia eu tenha que voltar a correr contra o relógio. Talvez eu só consiga fazer academia de manhã. Pode ser que eu tenha filhos e, com eles, venham as babás e afins. Pode ser.

Por hora, no entanto, vivo a vida que escolhi para mim.

Débora - A Divorciada

13 comentários:

Nadja G. disse...

Gostei do post! Vivo no dilema entre escolher viver assim como você ou como as moças da revista. Atualmente vivo mais como você mas estou na fase de já pensar no passo seguinte.

Indiquei seu post no twitter do meu blog, o @seviraquase30 . Beijos

9 de maio de 2012 às 00:19
Inaie disse...

Ah, Debora, eu ja fiz de tudo um pouco e atualmente vivo uma fase sabática, que está quase por terminar.
Ando planejando como é que eu vou "ser" nessa próxima vida, nessa próxima fase.
Não tenho mais nenhum deslumbramento pela vida de workaholic, não vejo mais nenhuma vantagem nela.
O bendito balanço, onde ele está?

9 de maio de 2012 às 02:11
Circe disse...

Oi Débora,
vou comentar pq me identifiquei em partes com o post: uma parte quer ser assim, a outra precisa primeiro zerar as contas pra poder ser assim.... Já fui casada (as contas vieram daí), não tive filhos (por opção), mas nunca, sequer quando o salário era 'gordo', cogitei pagar 500 reais em uma calça...me sentiria assaltada!, prezo o tempo, como quem preza o dinheiro, e se hoje a grana ainda não está me permitindo aproveitar o tempo, sei que isso é uma fase e vai passar... Obrigada pelo relato que passa a tranquilidade dos centrados, a calma dos que já entenderam que a maior fortuna é não ser escravo da imagem, da opinião do próximo...
Pq esse ainda me parece o melhor caminho...Abraço

9 de maio de 2012 às 10:59
Jamylle Bezerra disse...

É o grande dilema da modernidade. Viver para nós ou para os outros? A primeira opção é sempre a melhor e a que dá mais prazer, não tenha dúvida disso.

Tenha uma ótima quarta-feira!

9 de maio de 2012 às 11:09
Evelin disse...

Gostei muito do texto, principalmente porque tenho pensando nisso nas últimas semanas... sei que sou nova ainda, mas corro contra o tempo e não quero ficar assim por muito tempo...

Viva sua vida enquanto não tem filhos, pois acho que difícil optar por essa vida quando se tem filhos...

Beijo

Evelin

9 de maio de 2012 às 14:20
Sara Lima Saraceno disse...

O importante é gostar de SER FELIZ! Seja correndo, seja num ritmo mais tranquilo, acho bacana percebermos nossas necessidades individuais e buscarmos aquilo que faz a vida valer a pena para nós, o que também não precisa ser uma coisa imutável ao longo do tempo. De nada importa ser mais magra, mais rica, ter filhos, correr contra o tempo se tudo isso não for pra te fazer mais feliz.
;)
Bjo

9 de maio de 2012 às 16:55
Anônimo disse...

Meninas,
dificilmente eu comento os comentários pq sei que pouca gente volta aqui para ver. E não é mesmo o espaço mais apropriado para um "fórum".

Mas eu amei cada um dos comentários! Vi muito de mim em cada um deles. É mesmo um eterno dilema, concordo. E é também o eterno perrengue do pagar as contas X ser feliz. Éee, Inae, onde está o balanço? Essa tem sido minha busca.

Evelin, concordo que com filho tudo se complica e o tempo se vai. Na verdade, deve ser outro tempo...

Por fim, acho que a Sara tem toda razão. Se uma pessoa corre, corre e corre e é feliz, maravilhoso! Eu mesma já tive momentos de correria muito bons e saudáveis. Mas confesso que me esgoto rápido. E acho que é uma minoria que consegue ser feliz assim. A grande maioria corre sem saber por que e nem para onde.

Mas vamos buscando. Vida é isso =)

Obrigada!

beijosss

deb

10 de maio de 2012 às 10:17
Frô disse...

Adorei! Eu me permiti gastar o tempo e o dinheiro que já tive com viagens e hoje estou dura e sem tempo, mas feliz com a minha escolha de ver o mundo!

Muito valente você lutar contra o "modelo ideal" vendido pelas revistas, aliás, muito valente muitas de nós.

Beijos,
Frô

10 de maio de 2012 às 11:11
Catarina Anderáos disse...

Excelente texto. Desperta na gente uma necessária reflexão sobre a nossa existência... Obrigada!

11 de maio de 2012 às 16:15
Amanda disse...

Huhu!!! É isso aí garota! Adorei!!!
Bjoss,
Amanda Marques.

11 de maio de 2012 às 17:14
Gê. disse...

Flor, vc está certíssima. Pra quê correr tanto? Pra descansar qd for idoso? Quero descansar agora, ué...
Sou casada e tenho filhos pequenos, nem que eu quisesse me acabar no trabalho eu poderia. Luxo hj se resume em duas palavras: opções e tempo.
Ter tempo para ver os filhos crescerem, tempo para fazer bem feito seu trabalho, tempo para namorar o maridão (tb não acredito nessa filosofia de "rebolar" pra manter o marido do lado, não estamos numa selva, ou pelo menos eu não vejo o mundo assim), tempo pra acompanhar uma novelinha, pra fazer uma faculdade não pelo diploma, mas pelo que se pode aprender, de fazer um curso de primeiros socorros ou de artesanato...
A vida é tão gostosa que se andarmos correndo nem vamos sentir o cheirinho das flores do caminho.

13 de maio de 2012 às 14:55
Andarilho disse...

Essa questão tempo x vida é que nem aquela piada velha, que é mais ou menos assim:

Um fulano qualquer (geralmente um caipira) está lá tranquilo, deitado na rede, aproveitando a vida. Chega um engravatado e começa a falar:
- Mas você deveria se levantar, não perder tempo. Ir trabalhar (ou fazer qquer coisa do gênero).

E o sossegado retruca: - Pra que?
- Ora, pra ganhar mais dinheiro.
- Pra que?
- Pra poder comprar uma casa, poder viajar, etc
(e esse tipo de diálogo prossegue... até que...)
- Pra que?
- Ora, pra poder ficar sossegado e descansando.
- Mas isso, eu já estou.

30 de maio de 2012 às 15:14
Andarilho disse...

Essa tirinha conta a piada muito melhor do que eu:

http://www.phdcomics.com/comics.php?f=1502

9 de junho de 2012 às 22:39