quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
As memórias de um olhar
Eu só percebi lá pelo meio do jantar, sou distraída para essas coisas. Sentado numa mesa em frente à minha, no Paoli, em Florença, onde eu e Adri batemos ponto nas nossas férias, em setembro, um homem de meia idade, imagino que sessentão, olhava para mim. Não era um olhar comum, que revela o desejo banal de um homem mais velho por uma mulher mais jovem. De jeito nenhum.
Aquele homem me via além de mim. Podia até ser o olhar contemplativo de quem lembra de uma filha que morreu cedo, mas, acredito, nesse caso ele teria me mostrado para a mulher, sentada na cadeira ao lado. Fiz de conta que não vi, mas não pude deixar de pensar num roteiro para aquele personagem. Que tipo de lembranças eu teria provocado nas memórias daquele homem? Será que eu me pareço com uma mulher que ele amou no passado? Com alguém que ele perdeu? Ou que o deixou?
Teria trazido à tona memórias doces, de uma história bem aproveitada? Ou rastros de frustração, por não ter levado adiante uma relação que podia ter sido a mais arrebatadora de todas?
Queria muito saber o que pensa um homem que olha uma anônima numa mesa de restaurante na Itália assim, tão melancolicamente. Desconfio que aquele olhar tenha tido um tom de lamento, daquilo que ele perdeu por não ter tido coragem de viver. Deve ser difícil se sentir assim.
Espero que, de alguma forma, ele tenha sido feliz. E seja ainda. Se não hoje, um dia. De preferência, a partir de histórias que possam ser vividas. E façam um coração triste, enfim, explodir de bons sentimentos.
Isabela – A Divorciada
Aquele homem me via além de mim. Podia até ser o olhar contemplativo de quem lembra de uma filha que morreu cedo, mas, acredito, nesse caso ele teria me mostrado para a mulher, sentada na cadeira ao lado. Fiz de conta que não vi, mas não pude deixar de pensar num roteiro para aquele personagem. Que tipo de lembranças eu teria provocado nas memórias daquele homem? Será que eu me pareço com uma mulher que ele amou no passado? Com alguém que ele perdeu? Ou que o deixou?
Teria trazido à tona memórias doces, de uma história bem aproveitada? Ou rastros de frustração, por não ter levado adiante uma relação que podia ter sido a mais arrebatadora de todas?
Queria muito saber o que pensa um homem que olha uma anônima numa mesa de restaurante na Itália assim, tão melancolicamente. Desconfio que aquele olhar tenha tido um tom de lamento, daquilo que ele perdeu por não ter tido coragem de viver. Deve ser difícil se sentir assim.
Espero que, de alguma forma, ele tenha sido feliz. E seja ainda. Se não hoje, um dia. De preferência, a partir de histórias que possam ser vividas. E façam um coração triste, enfim, explodir de bons sentimentos.
Isabela – A Divorciada
14 comentários:
Ah, mas vc diz q ele estava com a mulher, então, das duas, uma: ou ele merecia mesmo ser infeliz, ou então ele era feliz, mas menos do que antes. Porque a memória geralmente funciona como uma lente, aumentando, tanto a felicidade quanto a dor, depende da pessoa.
6 de janeiro de 2010 às 08:48Concordo totalmente com o colega acima. A memória é como uma lente, que tudo aumenta.
6 de janeiro de 2010 às 08:54à propósito... Feliz ano novo, queridas. beijinhos para as três.
Bonito esse texto, legal sua reflexão sobre o significado de um olhar.
6 de janeiro de 2010 às 09:08E lembrei-me do final de um poema do Dana Gioia (ai, virei fã dele...), aquele que coloquei no meu blog, que talvez explique essa melancolia no olhar dele..
Summer Storm
(...)
There are so many might have beens,
What ifs that won't stay buried,
Other cities, other jobs,
Strangers we might have married.
And memory insists on pining
For places it never went,
As if life would be happier
Just by being different.
Talvez ele seja feliz... Mas imaginou, por um instante, se teria sido mais feliz se tivesse trilhado caminhos diferentes.
beijo!
Adorei esse poema.
6 de janeiro de 2010 às 09:24E são os what ifs que realmente me matam.
Oi meninas. Andei sumida por causa das crises, da adaptação com a nova vida e essa segunda faculdade. Agora estou separada fisicamente há mais de um ano, caminhando para o divórcio. Saudades de vocês.
6 de janeiro de 2010 às 11:10(risos) Esses italianos....
6 de janeiro de 2010 às 13:03beijos, Gio
Andarilho,
6 de janeiro de 2010 às 16:00Sim... Me matam, também!
Ai, eu adoro ficar criando historinhas das pessoas ao redor! Ainda mais se a pessoa em questão fica olhando assim, com eses olhos...
6 de janeiro de 2010 às 16:17=)
dé
adorei o texto... ate parece q eu estava na mesa ao lado vendo a cena.. ^^
6 de janeiro de 2010 às 18:27concordo com andarilho e mulherpolvo, qnto a lente.. e acho que eh essa lente da nossa memoria que nos faz caminhar.. msmo qndo nossos olhos vagam pra um antes ou qm sabe...
Oi, meninas!
6 de janeiro de 2010 às 21:52Venho p desejar um super 2010, tá?
Mta paz, saúde, amor, e mta história p contar!
Estou meio sumida dos comentários, mas, logo estarei de volta!
Bjão!
Olha só!!! Você já ouviu falar em projeção, moça? Lendo este post parece que você inventou um roteiro para a personagem que se chama Isabela.
6 de janeiro de 2010 às 22:36Bjs com carinho. . .
Elis
Oi Lindona,
7 de janeiro de 2010 às 11:40Saudade de ti! Adorei o post. Essas situacoes nos fazem pensar mesmo. Foi no meu blog da Voce SA
Feliz 2010!!!
Beijos
Cris
Soberbo!
7 de janeiro de 2010 às 13:35Ler este post me fez pensar em não ser aquele senhor na mesa, e ao mesmo tempo, querer olhar para alguém e ter belas lembranças!
cada vez mais me exacerba com seus textos e suas impressões.
Beijo Bela!
Entender-se é muito difício. E um olhar é um mundo
10 de janeiro de 2010 às 17:49Postar um comentário