segunda-feira, 9 de maio de 2011

Entre o monge e o rivotril

Eu estava lá tentando limpar minha mente de pensamentos, prestar atenção na respiração, me acostumar com o silêncio e ignorar a dor nas pernas quando perguntaram: "Quem quiser falar com o monge levanta a mão que daqui a pouco eu chamo vocês". Levantei sem nem mesmo saber o que aquilo significava. Era minha primeira vez em um templo budista. E mais uma das minhas tentativas de encontrar um remédio para a aceleração da minha alma (ou seja lá o que for que é tão acelerado) que não aquele que a gente compra com receita, vulgo tarja preta. Mas pensei: "Já que vim até aqui, vou logo falar com deus em vez do santo". Parecia que o tal monge era uma visita especial, já que tinha até gente de outros estados lá pra conversar com ele.

Só entendi que ele era japonês. Ele entrou no meio da sessão de meditação – enquanto todos miravam de olhos semi-cerrados para seus respectivos metros quadrados de parede – e disse palavras muito bonitas. Falou que meditar não é fácil mesmo, mas que precisamos ter paciência com nós mesmos. "Paciência comigo, paciência comigo...", repeti reiteradamente pra mim mesma.

Bom, já tinha aprendido isso, e que a espinha tinha que ficar ereta, e que deixar os chinelos organizados na beira do colchonete tem um grande significado, e foi que então chamaram os interessados na consulta. Fiquei numa fila um tempão, em silêncio, nem sabia direito o que dizer pro tal monge, só me disseram que era pra fazer uma pergunta. Na verdade, eu não queria perguntar nada, só desabafar. Fiquei lá pensando que bom seria se ele, com apenas um toque, acalmasse meu coração, aquietasse minha mente e me desse noites tranquilas para sempre. Ou que, como no livro “Comer, Rezar, Amar”, ele combinasse um encontro comigo na Indonésia daqui uns anos.

Fui a penúltima. Nem preciso descrevê-lo muito, é só imaginar um daqueles monges que a gente vê na televisão: japonês, magro, velho, vestido com manto alaranjado. Eu disse que era minha primeira vez num lugar como aquele, que não sabia mais o que fazer pra controlar minha ansiedade com a vida e se ele achava que a meditação poderia me ajudar. Só pelo ritmo das frases que soltei, ele já deve ter pensado que meu caso era grave mesmo. E ensinou, com as mais simples das palavras: “Quando comer, comer. Quando dormir, dormir. Quando trabalhar, trabalhar. Quando pensar, pensar. Pensamentos entram e têm que sair, entra e sai, entra e sai”. Ainda tentei retrucar, dizendo que não é assim tão fácil. E ele só repetiu tudo de novo.

Sai de lá pensando no absurdo da vida. A gente precisa passar tanto tempo, aprendendo tanta coisa, pra perceber que faz errado as mais básicas das funções humanas. E conclui que, se eu não reaprender a respirar, comer, pensar e dormir, nada mais vai me trazer felicidade na vida.

Quem se interessou, o templo é esse: http://www.sotozen.org.br


Patrícia, A Solteira

13 comentários:

Andarilho disse...

Alguém já disse que a vida é simples, complicado é a gente.

O complicado dessa vida é simplificar.

9 de maio de 2011 às 08:35
CIlo Roberto disse...

agora pense como isso é díficil quando eu ligo o modo multitarafa..... quase sempre...

beijo


p..: sou tentar me lembrar das frases dele...

9 de maio de 2011 às 09:53
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

É a gente tem essa mania de ignorar os detalhes e bota no automático para resolver as coisas básicas da vida. E não é bem assim. Mas quando vê, já foi. E dá-lhe respirar fundo de fazer tudo de novo, de um novo jeito. É um treino eterno. E é lindo.

beijos e ótima semana!!

deb

ps: quando ler o blog, ler o blog; quando falar no MSN, falar no MSN; quando atender o telefone, só usar o telefone...

9 de maio de 2011 às 10:41
Giselle Mota disse...

Paty, sou como vc, minha cabeca nao para um so minuto. Com certeza eu faria a mesma pergunta pra ele...rsrs
Bjos

9 de maio de 2011 às 10:53
Anônimo disse...

Quando amar, amar...

9 de maio de 2011 às 11:33
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Sábia lição, Pat. Vou me lembrar do seu monge.

Quero saber tudo dessa experiência zen aí.

Beijão,

Bela - A Divorciada

9 de maio de 2011 às 12:05
Tati disse...

Não consigo, se eu parar eu enferrujo!Eu sonho até com as contas para pagar, rs.

9 de maio de 2011 às 17:51
João do Espírito Santo disse...

Como ariano - que também sou - diria a mesma frase, rsrsrs

Coincidências da vida, ou não, numa viagem de onibus anos atras uma moça que era budista disse-me coisa parecida. E em gerenciamento de projetos aprendi a tecnica pomodoro (quem tiver curiosidade pesquise no google, é bem legal).

A ansiedade para mim é um desafio, hehe, ô bichinho dificil para eu controlar.

Pat, tomare que os ensinamentos budistas possam lhe ajudar. Boa sorte.

Bjs.

9 de maio de 2011 às 18:38
Anônimo disse...

Engraçado ler teu post, Patricia. Há cerca de um mês descobri uns nódulos no seio e achei que ia ir dessa para uma melhor. E naqueles dias, achando que o fim estava por perto, fiz exatamente isso: tentei viver cada momento, por mais bobinho que fosse, desfrutar de tudo e todos, com calma e paz.. Depois descobri que não tenho nada, o tal nódulo era bobagem...e acelerei de novo. Acho que o mestre é um sábio da vida.

9 de maio de 2011 às 19:37
Michelle disse...

Amei!!! Tmb ando muito ansiosa, vou copiar os ensinamentos do mestre, fazer um papel bem bonito e colar ao lado do pc...pra nunca esquecer!!!

Beijos

10 de maio de 2011 às 08:36
Ana disse...

Afff! Nem eu aguento de tanta ansiedade que sinto...
O mais engraçado é que quando estava lendo o comentário de Deb eu estava no telefone, rsrsrs
Tive que repetir pra mim mesma: "quando ler o blog, ler o blog; quando falar no MSN, falar no MSN; quando atender o telefone, só usar o telefone..."
:-)
Beijos

10 de maio de 2011 às 09:22
Anônimo disse...

Obrigada pelo incentivo pessoal, vou me esfoçar.
Quanto ao comentário anônimo do amor, tenho a dizer que só dá pra "Quando amar, amar" se a gente é correspondido, do contrário seria amor de mãe, incondicional, e amor de homem e mulher não funciona assim.

Bjs da Solteira

10 de maio de 2011 às 19:43
Késia disse...

Adorei o título.
Mtas vezes a gnt realmente fica entre essas duas opções. Como o remédio é bem mais prático acabamos optando por ele, pq como o próprio monge disse meditar não é msm fácil.
Outro dia, um dia antes de prestar vestibular, tava tensa: pensamento acelerado, não conseguia dormir, essas coisas... então minha mãe, usuária assídua do rivotril, me cedeu um (kkk), fiquei morrendo de medo de ficar dopada na hora da prova, já q eu não era acostumada com o medicamento, mas tenho q admitir q ele me ajudou bastante, pelo menos dormi!

Parabéns pelo blog!
Grande abraço, Patrícia.
Késia.

21 de junho de 2011 às 02:13