sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Pronto para uma nova corrida

A corrida era do trabalho para a aula de espanhol. Atrasada como de costume, me meti no táxi e telegrafei o endereço de destino. Dei um minuto para tomar ar e engatei um "moço pode ligar o ar e o rádio?" Não sei porque os táxis aqui de São Paulo acham que não faz calor aqui nesta cidade. Parece que as temperaturas próximas as do Inferno são prerrogativa do Rio de Janeiro...

Aos poucos, percebi que o motorista era um senhor, educadíssimo por sinal, e de fala muito tranqüila. E também que o banco de táxi era um divã para ele. Pois em apenas três quadras já soube que era taxista havia uns cinco anos, adorava o trabalho e encerraria a sua carreira por ali mesmo.

Antes do táxi, foi alto executivo de uma multinacional de brinquedos por quase três décadas. Com a venda da empresa no início dos 90, entrou na lista dos demitidos em massa. Abriu um negócio próprio e, pelo que contou, bem próspero. Confesso que até o momento aquele papo era um monólogo que entrava por um ouvido e saía pelo outro. Só que isso foi até ali.

Com a morte da esposa, ele entrou em desgosto. Vendeu tudo, viveu um luto de três anos e depois casou de novo. "Sabe, homem não nasceu para viver sozinho. Nem homem, nem mulher. O ser humano é um ser gregário. Mesmo assim, é necessário tempo para se acostumar com a nova companheira. Já vai fazer nove anos que perdi a minha esposa."

A última frase me deixou sem fala. O tom de voz do taxista tinha sido melancólico desde o começo. O final da conversa fazia referência à esposa morta. Digam o que quiserem, ele ainda não esqueceu o grande amor. O cerne de tudo está ali. E isso não quer dizer que ele não goste da atual esposa.

Vi ali o reconhecimento de algo bonito, que deixa saudade quando acaba e tem o seu devido lugar dentro da alma. Assim como enxerguei, coexistindo ali, uma força que é inerente a todos nós: a do recomeço mesmo que seja a duras penas. Ele deu oportunidade a si próprio de não morrer junto. Tenho certeza de que não se arrepende e é feliz com a vida que segue. Sábias decisões as do senhor de fala mansa.

Giovana - A Solteira

6 comentários:

Andarilho disse...

Quantas histórias cada um de nós carrega, não?

6 de novembro de 2009 às 13:36
Fernanda disse...

bonito, Giovana!

6 de novembro de 2009 às 15:16
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Bonita a história!!!

Ah, eu já até pensei em escrever um livro com histórias de taxistas!! É cada uma...agora mesmo acabo de voltar da rua e peguei um figura que contou pq ele se separou. Aí terminou dizendo: "Caso mais não! Caso mais não!"

hahaha

beijooo

debbie

6 de novembro de 2009 às 16:04
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Lindo personagem mesmo. Torço para que ele seja feliz e um dia consiga viver em paz.

Beijos,

Bela - La Divorciada

6 de novembro de 2009 às 20:01
Anônimo disse...

Sempre há um novo dia, não é mesmo?

7 de novembro de 2009 às 17:39
Rita Hiromi disse...

Começos e recomeços... é uma história interessante, nos mostra que por mais que gostemos de viajar, a maior viagem é dentro de nós. Que bela viagem este ser está fazendo.

bjs

8 de novembro de 2009 às 11:41