terça-feira, 25 de novembro de 2008

Traída pelo traíra

Começou como uma amizade. Mas a intenção, desde o começo, era que ela fosse bem colorida. E foi exatamente o que aconteceu com aqueles dois. O romance não se cansava de novos cenários. Viam-se entre idas e vindas, pois os amigos coloridos viviam em cidades diferentes. A história era leve e divertida. Com uma pontinha de expectativa sempre à espreita... Quem sabe a coisa não engrena e vira caso sério? Mas será que é isso que se quer?! Ou melhor deixar como está? Questionamentos à parte, a história seguia seu caminho sem compromisso, só com o hoje e o agora. Cada passo pensado de cada vez.

Mas o rapaz revelou-se uma criatura complicada. História pregressa cheia de percalços. Não estava preparado para embarcar naquele vôo. Fechado para balanço, abriu o jogo a respeito. O problema é que a partner já tinha comprado o bilhete de viagem. Boba! Deveria ter perguntado antes. Mas já tinha apostado algumas fichas. O colorido tava tão bonito. Hoje, olhando para trás, ela vê que foi melhor como tudo se encaminhou depois. O cara era um Atlas de problemas complexos demais dentro da própria cabeça.

Os momentos de cada um eram descompassados. Porém, em comum, tinham admiração, respeito e tesão - porque não? - um pelo outro. Até o dia que o rapaz não soube medir o próprio passo e quebrou o encanto.

Numa amizade colorida, traição não existe. Basta não transformar em pó esse tal encanto. E saber escolher a outra. Sim, porque as mulheres se comparam e detestam saber que, mesmo por um único segundo, alguém menos em tudo ocupou o primeiro lugar. Ainda mais quando é menos em idade também... :-/

Se o passo mal dado acontece num círculo restrito, para desconfiar não custa nada. Para descobrir a verdade muito menos. E foi o que aconteceu. A amizade colorida desbotou em dois segundos, o chão sumiu. Mesmo sendo apenas, a-pe-nas, uma amizade colorida. E daí. Ela gostou do cara mesmo. Ele, quem sabe, também dela.

Não teve raiva, ódio nem chororô. Quando o chão reapareceu debaixo dos pés, a decisão foi simples e fria: "não vou ficar sabendo disso sozinha". Celular sacado do bolso, número do fofo discado. Ponto fraco do rapaz identificado: detestava que soubessem da vida dele.

Ele: "Tudo bem?"

Ela: "Mais ou menos. Fiquei sabendo de uma coisa muito chata. Que você passou a noite com a Fulana. E sabe como eu fiquei sabendo? Ouvi, sem querer, uma conversinha cheia de risinhos sobre você e ela. Como você foi ficar com uma menina que só queria te exibir para os outros? Juro, você é livre pra fazer o que bem entender. Não queria mesmo ter tomado conhecimento sobre esta história, muito menos deste jeito."

Ele (esbaforido, desesperado, apavorado): "O QUÊ?!?!? MA-MA-MAS QUEM É ESSA MENINA? DE QUEM VOCÊ OUVIU ISSO? É MENTIRA! É MENTIRA! É MENTIRA! É MENTIRA! NUNCA FALEI COM ESSA GAROTA. É MENTIRAAAA!"

Ela (começando a gostar da história): "Sinceramente, não me interessa. A gente não tem nada mesmo. Só que, não dá para negar, que eu odiei saber disso. E mais ainda: desta forma patética. Achei, de verdade, que você soubesse conduzir este tipo de coisa de outra maneira. Detestei saber. Saber o que sempre deve ter acontecido desde que a gente se conheceu. Mas não é da minha conta. Assim como o contrário. Só que de mim, esse tipo de coisa você nunca vai saber. Muito menos deste jeito. E é aí que reside a nossa diferença. É isso que faz a gente não ter mesmo nada a ver."

O resto da história foi uma gritaria (dele) só. Ela tava nervosa. Não imaginou tal reação naquela proporção nuclear. A ligação foi um tudo ou nada. Havia a total liberdade dele dizer que "sim e daí?" Essa resposta aniquilaria o moral dela. Só que ele não sabia disso. No risk, no fun. O cara perdeu o chão e a glória foi só dela, mesmo sentada na escadaria dos fundos do prédio. Ligação encerrada, ela teve um ataque de riso. Daqueles que o ar falta, a voz some e a cara fica roxa. A sensação de ter saído por cima foi indescritível. Mas a dúvida ainda pairava no ar.

Duas semanas depois, um mail dele querendo saber como ela tava e quando iria visitá-lo de novo chegou a provocar saudade dos bons tempos da amizade colorida. Mas ela já tinha comprado o bilhete para outra viagem. Consigo mesma e para a Europa.

"Desculpa, mas viajo semana que vem. Aquele mochilão que te falei. Um mês rodando pela Europa, com celular em casa e dentro da gaveta. Não vai dar para a gente se ver agora. Quem sabe vou aí a trabalho na volta e a gente tenta se encontrar. Sorry, babe. Beijo."

A Solteira

2 comentários:

3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Amiga Solteira,

Essas amizades coloridas são ótimas, mas nem sempre são simples...Identificação total.

Beijos,

A Divorciada

25 de novembro de 2008 às 23:03
Daniela Felix disse...

Oi Tritonas!!!
Se era pra ser um conto, falou de mim, mas com um final diferente!!! ahahahahah
Jamais conseguiria suplantar a tristeza e dar a volta por cima com tamanha classe.
Vale a dica.
Como disse a Divorciada, e com muita propriedade, nem sempre é tudo tão simples assim... Não se se é da natureza a busca por relações complexas, mas todas as minhas experiências foram terríveis.
Prefiro a saída com o mochilão!
Beijos,
Uma Trintona e 1/2 Solteiríssima...

PS. Blog fantástico! Amei!

26 de novembro de 2008 às 00:29