segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Vale a pena?

Todo mundo tem um trauma de infância. Marilu não come espinafre porque sua mãe a obrigou comer dos cinco aos doze anos. Tonico não suporta matemática porque seu pai sonhava que ele fosse um gênio das equações. Eu, por exemplo, faço de tudo para negar minha mãe, funcionária pública que trabalhou 20 anos no Banco do Brasil. Pingo de emprego em emprego, sem carteira assinada nem plano de saúde, e nunca passo de dois anos - verdadeiro pânico da estabilidade profissional alheia.

Trauminha assim, mal não faz. É até divertido. Costumo dizer que quando um casal, num bar ou jantar, está naquele falatório intenso, pré-vou-te-pegar, sempre desconfio que a mulher tá citando algum trauma de infância enquanto o homem está tentando adivinhar o que há por baixo daquele vestido (ou o contrário, dependendo dos níveis de yin e yang de cada um). Traumas de infância compõem um ótimo repertório pró-xaveco.

O que eu não consigo entender é o ressentimento eterno. Tirando os que sofreram abusos graves, físicos ou psicológicos, simplesmente não assimilo os que maldizem a vida por causa de um pai, assim, digamos, não muito padrão ou de uma mãe que não se encaixa nos sonhos da família Doriana. Que alimentam um ódio eterno por causa da ausência nas festas da escolinha ou pelo descaso dos workaholics.

Vale a pena?

Mas que bobagem, já é tempo de crescer, diria Fábio, obrigaduuu, Jr. Concordo, Fábio. Já temos tantos problemas, tantos atravancos, tantos contratempos, tragédias repentinas, pequenas catástrofes particulares, irritações cotidianas, sonhos que naufragam a todo tempo. Nesses momentos de desesperança, nada como lembrar que, um dia, aquele pai torto e aquela mãe relapsa cuidaram, da forma deles, de você. E que você é o que é, em grande parte, por causa deles. Ninguém nega carinho por pura negligência. Tem gente que simplesmente não sabe chamegar. E o amor se manifesta das mais diversas formas - frase do meu ex, um dos maiores aprendizados que tive com ele.

Eu agradeço aos meus progenitores tortinhos todos os dias pelo maior presente que pude ganhar um dia: minha existência.

E deixo os traumas de infância para um bom papo de mesa de bar.

Débora – A Divorciada

7 comentários:

Andarilho disse...

Ressentimento eterno é pra quem quer jogar a culpa em outra pessoa por algo que ela mesma não tem coragem de assumir.

6 de fevereiro de 2012 às 09:10
O Divã Dellas disse...

Eu também tenho os meus... O meu filho voltou às aulas hoje. Eu, mãe solteria que sou, sem grana pra comrpar bolsa nova pra ele. Aquilo me martirizando. Eu falei com ele se tinha problema se ele ficasse com a bolsa antiga durante esse mês até eu poder comprar outra, e ele na sua sabedoria de criança de 4 anos incompletos disse: "Não tem problema, mamãe!". Mas eu ainda estava incomodada. Pedi para minha irmã comprar e eu pago parcelado... Eu disse pra ela: "Sei como era ruim ver todos com coisas novas e só eu com as coisas antigas"... Enfim, meu bebê abraçou tanto a bolsa nova e passou a tarde de ontem toooda brincando com ela (Mamãe, agora eu tenho uma bolsa que puxa - com rodinhas)!!!
Enfim, cada um com seus traumas... Mas AMO meus pais. De verdade. Eu também deixarei traumas no meu filho, é inevitável.
Cinthya - O Divã Dellas

6 de fevereiro de 2012 às 12:18
Evelin disse...

Traumas são traumas.

Tá, você até consegue se livrar temporariamente.

Mas, temporariamente. E digo, com muito treino.

Ainda que tenhamos consciência e a vontade de deixar para “um bom papo de mesa de bar”, ele persiste inconscientemente. Pelo menos, é nisso que acredito.


Se alguém souber como se livrar dele “para todo sempre, amém”, eu serei eternamente grata.

Beijos

Evelin

6 de fevereiro de 2012 às 15:58
Samira disse...

Evelin eu descobri essa técnica, digamos que é uma aliada da Programação Neurolinguística, quem ve de início acha meio louco ou que não vai funcionar, mas para mim está dando resultado.

Eu sou da opnião que se você faz piada da situação, comenta no bar, não significa necessariamente que você se livrou do trauma, pode ser um disfarce, um mecanismo de defesa para lidar melhor com uma recordação amarga.

Ressentimento eterno pode existir, vai da pessoa se ela quer mudar isso ou não, se ela deixa de se enxergar como vítima e fazer um tratamento psicológico

6 de fevereiro de 2012 às 16:21
Samira disse...

essa é a técnica que eu falei mas esqueci de postar o link do site

http://www.eftbr.com.br/default.asp

6 de fevereiro de 2012 às 16:28
Evelin disse...

Hum... interessante!

Meio louco, a priore. Vou tentar investir.

Muito obrigada Samira.

Beijos

Evelin

8 de fevereiro de 2012 às 00:22
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Pois é, Evelin e Samira, também acredito que existem traumas e traumas. E que nem tudo se resolve com o deboche. Para chegar ao deboche sobre meus traumas familiares, aliás, fiz um ano e meio de terapia, aikido, meditação, leituras mil e muita intenção de autoconhecimento.

Tem razão, Evelin. Até chegar na mesa de bar, há de se treinar muito.

Grave, entretanto, é quando não se tenta enfrentá-los. Tocá-los, senti-los e até, por que não?, se divertir com eles.

A postura passiva de quem se defende das agruras da vida simplesmente culpando os pais por tudo - e isso é um absurdo - é que me incomoda.

Dói? Tá ruim? É incômodo? Ótimo! Hora de se mexer =)

beijocas

deb

8 de fevereiro de 2012 às 12:29