Descobri que a vida pode ser melhor quando se tem uma Nancy por perto. Nancy é a diarista que trabalha lá em casa. Apesar de diarista, ela só vai de 15 em 15 dias porque senão o dinheiro é que vira pó. Diria que ela é quase uma mãe. Lava, passa e deixa a casa que é um brinco só. Depois de Nancy, percebi que a vista lá de casa melhorou muito, porque os vidros deixaram de fazer parte dela.
Sim, porque antes de Nancy, a faxineira era eu. Economia mais burra não há. O chão até que ficava bonitinho, mas os vidros ficavam com aquelas marcas de quem tentou, inutilmente, limpá-los, o topo da geladeira e os armários da cozinha eram as autênticas "terra de Marlboro", não viam um pano há séculos. Ou vocês acham que eu ia ter saco de pegar uma escada, subir lá em Deus me livre para limpar o que ninguém vê? Ah, sim, esqueci de mencionar um pequeno detalhe: Nancy tem mais de 1,75m, enquanto euzinha estacionei nos 1,60m há muitos e muitos anos. O mundo é ingrato com as baixinhas às vezes...
Neste pouco tempo de convivência, já descobri que ela quase foi modelo na juventude. Mas o pai, intransigente, teve um ataque histérico quando descobriu que Nancy clicava aqui e acolá. "Ah se eu tivesse escutado a minha intuição", disse. Infeliz de nós que perderíamos Nancy, a maga dos panos e removedores, capaz de transformar qualquer pardieiro em casa digna de revista de decoração.
Confesso que, apesar da maravilha que é ter Nancy na vida, sempre me perco depois da faxina. Nancy é a estrela do lar, ou seja, arruma tudo do jeito dela. Só que casa de solteiro ou solteira é praticamente habitação de deficiente visual. Um pente sai fora do lugar e não sabemos mais onde estamos. Pois é, e não é que da última vez que Nancy esteve lá o meu pente de madeira - e de estimação - desapareceu.
Sem tempo para procurar e achando que o regalo tinha sido raptado por algum gnomo escabelado, resolvi deixar rolar. Que o destino pusesse o dito cujo novamente no meu caminho, mesmo que o mundo não tivesse mais de 40 metros quadrados neste caso. O mistério só foi elucidado quando recebo uma ligação, quase uma semana depois da faxina, e às 11 e bolinha da noite. Era Nancy...
Nancy: "Ô fia, sou eu, Nancy"
Solteira: "Oi Nancy, tudo bem? O que houve?"
Nancy: "Ô fia eu fiz uma coisa horrível, você não vai acreditar. Não reparou nada estranho aí na sua casa?"
Solteira (achando que já sofria de intoxicação de gás): "Na-não... Nancy, o que aconteceu?!??!"
Nancy: "Ô fia eu levei seu pente, tava embolado na minha roupa. Devo ter jogado as minhas coisas em cima dele e, na hora de guardar, o pobre veio junto."
Solteira (rindo de alívio): "Ô Nancy, que isso? Traz na semana que vem, ué."
Nancy: "Eu levo, eu levo. Fiquei tão preocupada. Pôxa, o que a patroinha ia pensar de mim."
Naquele momento, me senti a dona Scarlett, de O Vento Levou. Ô Nancy, patroa, não!!
A Solteira
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