sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Meus homens

Dia de convidada especial. Quem escreve hoje, atendendo a um pedido meu, é a jornalista Dani Costa, uma querida com quem eu já tive o prazer de trabalhar. Gata, fofa, mãe de duas crianças lindas e adoráveis, namorada e trintona, ela escreve aqui como é cuidar de um homem de quatro anos e de outro de trinta e poucos. Fiquem na ótima companhia dela.

Beijos, Dani! Obrigadíssima, viu? Adorei. Seja bem-vinda e escreva sempre que quiser, a casa é sua.

Isabela – A Casada

Relacionar-me com um masculino com mais de 30 anos parecia-me assustador quando, enfim, dediquei-me a namorar. Até então, eu só tinha responsabilidade sobre os sentimentos de um menininho que cresceu na minha barriga, me ama incondicionalmente e aceita exatamente tudo o que vem de mim.

Diante dos dois, por alguns meses, quando o namoro começou, via a enorme dificuldade que era me envolver com alguém que não me conhecia direito, que tinha a mesma idade que eu, que exigia em linguagem adulta, atenção, e esperava que eu reconhecesse a que me prestava. Putz, achava muito mais fácil quando esse roteiro era vivido com o meu filho, no afinado vocabulário direto que possuímos, sem incógnitas e suposições. Ah, o meu pequeno masculino que nunca me deixava na incerteza...

Fluir com um adulto foi mais difícil para mim do que fluir com uma criança. Temia falar ao meu namorado o que não devia, temia dar uma resposta atravessada, no mau-humor da manhã, e ele não gostar. Temia que, no auge da minha loucura hormonal natural feminina, eu o colocasse de castigo durante uma briga (“já ‘pro’ quarto, fica lá no cantinho do pensamento até segunda ordem!”). Temia que eu avançasse no prato dele e cortasse toda a sua carne, para facilitar sua refeição. Temia não resistir à tentação de limpar suas orelhas e cortar as suas unhas (não resisti mesmo, mas já parei com isso). Temia trocar sua roupa, depois de enxugá-lo após o banho, já que eu tinha alcançado a fase de escolher e passar o que ele iria vestir. E ainda conferir se estava bom.

Eu sentia uma vontade desesperadora de ser a mulher dele, sem parecer ser sua mãe. E ele bem disse por diversas vezes que eu lembrava a minha sogra: “minha mãe também saía na rua com chapéu de palha nos dias de sol”; “minha mãe usava cabelo enrolado cheio como o seu”, “minha mãe me presenteia sempre com roupas, como você faz”, “minha mãe também comia os enfeites da tábua de sashimi”.

Bolei, então, um plano esquisito e passei a evitar carinhos maternais: não fazia mais cafuné nos cachinhos, não deixava a escova de dente pronta em cima da pia, não colocava o chinelo prontamente disposto à sua frente para evitar colocar o pé no chão frio quando tirasse o tênis.

Ele não gostou. Reclamou aqui, reclamou ali (“tá tudo bem? Tá tudo bem com a gente?”). Mas deixou rolar.

Fiquei confusa, porque acima de qualquer coisa nesse mundo, queria cuidar dele sem parecer menos sexy, sem parecer a grande matriarca. Ao mesmo tempo, queria por à tona o meu eu zeloso e, ahhhhhhh, louco para por aquele homem lindo para dormir no meu colinho!!!!

O filho, meu pequeno homem que, até aquele momento, recebia todos os mimos e era o único masculino que me fazia rendida, me fazia útil, me fazia inesgotável, que me fazia ser a melhor do mundo, cobrava da mãe mais carinho com o namorado (por sinal, a única referência masculina que ele possuía na vida). “Mãe, você trouxe o meu refrigerante, cadê o dele?”, “mãe, você pegou o meu casaco, pega o dele?”, “mãe, você lembrou de comprar o biscoito que ele gosta?”

Pensei: cúmplices.

Mais tarde, ponderei: solidários.

Então, entendi: são iguais, são amados pela mesma mulher. Evidente que esperem o mesmo carinho.

Nesse estágio, perdi o medo de cuidar do homem com mais de 30 anos, visto que ele não exigia mais do que se podia fazer por um menino de 4 anos (hoje com 6). E essa certeza veio quando o meu namorado fez uma cirurgia de recuperação dolorosa, que o tornou frágil, necessitado de muito cuidado e muito jeito.

E, apesar de nunca ter cuidado de nenhum adulto dessa maneira, foi extremamente simples, sem qualquer estratégia ou renúncia: bastava, todo o tempo, falar com voz mansa, sentimental, e acarinhá-lo com o mesmo zelo que acarinho o meu filhinho.

Dani Costa – A Mãe de Dois e A Namorada

7 comentários:

Anônimo disse...

Tá lindo esse texto. Tá linda essa história. Tá linda essa mensagem. Adorei Dani. Torço pelo teu amor. Vc sabe o quanto gosto de vcs.
Beijos pros teus queridos,

Van Pessoa

4 de novembro de 2011 às 00:36
Frô disse...

Adorei também. Quanto carinho. Vale a pena sermos espontâneas - esse negócio de se segurar e fazer joguinhos não tá com nada. Parabéns!

4 de novembro de 2011 às 00:47
Andarilho disse...

Muito bonito, mas tem que tomar cuidado pra não virar mãe dele. Pq aí, a paixão acaba (a não ser que ele tenha um complexo de Édipo mal resolvido).

4 de novembro de 2011 às 08:32
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Amei esse post!
Fiquei imaginando, rindo muito, com a cena de vc dando comida na boquinha dele!
Demais!!
E muito lindo isso de se descobrir, um belo dia, que tudo bem ser assim, assado, ser o que se é.
Obrigada pela colaboração!
bjs
deb

4 de novembro de 2011 às 11:19
Anônimo disse...

Muito legal a comparacao entre seus dois homens.

Belo texto, volte sempre.

Bjs da Solteira

4 de novembro de 2011 às 19:06
Anônimo disse...

Ah... (minha amiga) Dani e o seu maravilhoso dom de conversar com o leitor, ao, tão sutilmente conseguir expressar sentimentos com palavras! Sou suspeita pra comentar!!!

5 de novembro de 2011 às 16:19
Evelin disse...

Gostei da comparação!

Beijos

Evelin

9 de novembro de 2011 às 11:29