sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Terapia é coisa de gente doida

Outro dia escutei uma pessoa muito querida dizendo: “Preciso fazer algo porque estou muito estressada, mas terapia eu me recuso. Não acredito nisso”. Ela não foi a primeira e nem será a última a me dizer tal frase. E sei que ainda vou ouvir tantas outras dizendo que isso é coisa de gente doida e que se é para ficar falando horas com um desconhecido, mais vale o velho e bom amigo. Quanto mais nos afastamos dos centros urbanos, neuróticos e estressados, mais essas verdades se solidificam e se tornam sentenças. Principalmente nos rincões deste Brasil varonil onde comer, morar e vestir-se se fazem mais urgentes - e analisar-se soa como coisa de gente mimada que tem dinheiro para rasgar.

Pesa também o fato de vivermos em um momento pragmático, no qual todos querem um retorno rápido e eficiente de tudo, até da análise dos sentimentos. O que faz com que nossos afetos também sejam tratados de forma comercial. Tudo precisa ser mensurado, palpável, visível. E a terapia, nesse contexto, parece inócua. Oras bolas, que “perca” de tempo. Temos muito a fazer. Temos metas a cumprir.

Que pena. A terapia é um processo de autoconhecimento dos mais ricos e um verdadeiro exercício para a saúde mental, tal qual a ginástica para o corpo. Não acredito que todos tenham que fazer, nem que precisem, e tampouco acho que a psicologia salvará a humanidade. Longe disso. Mas fico morrendo de vontade de ir até o túmulo de Freud, Jung, Lacan e outros gênios que desbravaram o encantador reino da psicologia e oferecer minhas condolências toda vez que ouço essas coisas.

Além disso, existem inúmeras linhas de terapia que atendem aos mais variados perfis. Aquela imagem clássica de uma pessoa deitada no divã falando e o terapeuta ouvindo é só uma das possibilidades.

O que eu sou a favor é do cuidado com a saúde mental. Li, certa vez, um neurocientista dizendo que o limite entre a mente sã e a mente doente é um lapso. Um pequeno descuido e uma obsessão vira paranóia, um medo vira fobia, um estresse vira síndrome do pânico. Há de se estar atento. E observando a mente com muito carinho. Fazer terapia é uma das formas de se fazer isso.

Por fim, a verdade é que todos somos um pouco doidos. Uns mais, outros menos. Uns disfarçam melhor com suas máscaras sociais. Atuam como fortes e indestrutíveis e caçoam dos mais frágeis. Todos somos imensamente frágeis e fortes. O que verdadeiramente nos diferencia é justamente a capacidade de olhar para si e buscar se diagnosticar a todo momento.

Repito: não acho a terapia o único caminho possível. Só temo que o exagerado preconceito contra ela seja também um tremendo medo de olhar para dentro de si mesmo.

Débora – A Divorciada Doida

Em tempo: só fiz terapia uma vez na vida, durante um ano e meio, já faz dez anos. Mas foi essencial para o meu crescimento e minha formação, foi o ponto de virada para encarar com mais maturidade a vida adulta. Faria, e certamente farei, de novo.

15 comentários:

Nadja G. disse...

Débora, fiz terapia aos 20 e voltei agora aos 30. Acho otimo e necessario, e sou das que acham que todo mundo devia fazer!

Mas meu pai por exemplo tb nao "acredita" em terapia... esse tipo de coisa até me fez escrever uma croniquinha divertida no meu blog: http://seviranosquase30.blogspot.com/2011/10/mane-problema.html

Beijos

11 de novembro de 2011 às 02:39
Andarilho disse...

Eu acredito em terapia, mas não faço nem pretendo fazer.

Tenho orgulho das minhas loucuras.

11 de novembro de 2011 às 08:33
Evelin disse...

Hum... interessante.

Ainda tenho preconceito com terapia, fato.

Mas acho interessante ouvir das pessoas que já experimentaram. Fico pensando se um dia me submeteria a uma terapia...

Beijos

Evelin

11 de novembro de 2011 às 12:51
A. Marcos disse...

Quer autoconhecimento? Filosofia.

Quer pagar para lhe dizerem aquilo que vc poderia saber sozinha? Psicoterapia.

11 de novembro de 2011 às 12:57
Anônimo disse...

Pô, se o mundo todo fosse como o A. Marcos, e conseguisse o autoconhecimento com filosofia, que maravilha seria.

Não teria tanta gente doida, infeliz e doente por aí.

=)

11 de novembro de 2011 às 13:30
Keylla Barros disse...

Fiz terapia durante 5 anos e se tivesse mais dinheiro, faria pro resto da vida. Acho maravilhoso o fato de se conhecer por dentro e poder melhorar os nossos recursos físicos, cognitivos e psicológicos pra viver melhor e mais feliz, mais consciente do mundo interior e dos tipos de interaçao que cada um desenvolve com esse mundo. Aconselho terapia a todo mundo! E nao é porque vc tem problema que tem que fazer terapia, eu comecei por curiosidade. E pra aqueles que acham que dá pra descobrir tudo sozinho, das duas, uma: ou nunca fez terapia ou escolheu a abordagem psicoterápica errada. Ah, tem ainda uma terceira, morre de medo de saber o que tem dentro de si, porque (A.Marcos), nao tem Descartes no mundo que possa descrever alguém como vc mesmo... com ajuda, claro!

11 de novembro de 2011 às 13:32
Cilo Roberto disse...

oi Débora,
fiz terapia por dois anos e gostei muito, acho que parte do "doido" que sou hoje devo a esse processo.

acho válido, não me arrependo e farei de novo caso acho preciso. mas concordo com vc que não é o unico caminho.

bjo grande

11 de novembro de 2011 às 13:49
Giselle Mota disse...

Sou louca pra fazer, mas como sei que vou ficar sem jeito de me abrir, nunca fui...um dia eu vou!rs
Beijos

11 de novembro de 2011 às 13:50
A. Marcos disse...

Keyllita,

Filosofia é o caminho para a iluminação interior. Não se está só quando se está em meio a tanta profundidade como aquela proporcionada por Lao Tsé, Aristóteles, Espinosa, Nietzsche e Sartre, dentre outros.

Tanto assim que Freud e Jaspers estudaram filosofia antes de se dedicarem à psiquiatria. E todos os postulados da psicanálise só existem graças ao mergulho profundo que Freud fez nos estudos de Platão e Scopenhauer.

Hoje existe até mesmo um método chamado terapia filosófica que se destina a isso: suplantar a psicoterapia tradicional.

Eu sou como qualquer outra pessoa, com problemas e conflitos interiores, mas tenho plena convicção de que me conheço bastante sem precisar de auxílio psicoterapeutico para absolujtamente coisa alguma.

11 de novembro de 2011 às 15:04
Lu Motta disse...

Cilo Roberto

Eu também me considero mais "doida" depois da terapia.

E isso se deve ao fato que não tenho mais tanto medo da opinião alheia, aceito mais meu eu interior.

A terapia libertou o que sou, independente das convenções sociais. Diria que é um processo parecido com "sair do armário", mas não sou homossexual.

E também não perdi meu senso crítico que não distingui o comportamento normal. Sou apenas menos crítica comigo mesma e me perdôo mais pelos erros cometidos.

E dou-me a chance de ser feliz.

11 de novembro de 2011 às 16:29
Raquel disse...

Toda vez que eu ia pra terapia meu marido perguntava se eu tava indo pro médico de maluco. Não sou preconceituosa como ele, mesmo porque fiz terapia por três vezes. Mas confesso que da última vez cansei. Cansei de ficar analisando a vida o tempo todo. Tudo virava um problema a ser minhocado. Achei que tava ficando encanada demais. Parei e não pretendo voltar.

11 de novembro de 2011 às 22:45
Millena Lyra disse...

Eu acho isso muito pessoal, logicamente quem tem suas reservas com terapia terá sempre um pé atrás não aproveitando efetivamente o trabalho. Eu particularmente faço, gosto, me ajudou bastante principalmente no meu processo de separação a lidar com sentimentos como culpa, abandono, rejeição, enfim. Não acho que é única. Apenas mais um método. Eu gostei. Só não vale usar o preconceito como argumento.

14 de novembro de 2011 às 02:47
Inaie disse...

Adoro terapia. se tenho grana, faco mesmo. ja cheguei a fazer tres tipos de terapia ao mesmo tempo ( naaao, elas nao interferiam uma na outra)...

Hoje mesmo contactei uma terapeuta que me recomendaram e na quinta, comeco mais uma jornada de auto conhecimento.

Amo, amo, amo.

14 de novembro de 2011 às 15:29
Anelise Ribeiro Veiga disse...

Adorei o post. Sou psicóloga, faço terapia há 4 anos e meio e irei continuar não sei até quando. Sempre digo que para cuidar dos fantasmas dos outros preciso resolver os meus em primeiro lugar. Também acho que nem todo mundo precisa de terapia, e concordo que cuidar da nossa saúde mental é tão importante quanto cuidar do corpo. Desabafar com amigo não é o mesmo que fazer terapia, um olhar diferenciado e uma escuta de alguém que está preparado para isso, faz toda a diferença. Na nossa sociedade ocidental-capitalista-líquida não há mais tempo para sentir, para chorar... procuram-se soluções instantâneas. As pessoas correm tanto que não conseguem mais parar e se olhar, eu sempre achei que a minha terapia era um momento pra mim, para falar de mim e sobre mim. Psicólogo nenhum irá resolver o seu problema ou as suas questões, mas irá te auxiliar a mobilizar recursos internos para conseguir passar por isso, quem já fez sabe o quanto transforma, e o quanto amadurecemos ao passar por esse processo.
Beijos

14 de novembro de 2011 às 22:08
Razinha Arruda disse...

Dé, minha querida!!!!!!!!!!!

Faz um belo tempo que não passo por aqui e confesso: resolvi ler esse texto pq me interessei pelo título. Me surprendi bastante e AMEI o que li. Parabéns lindona, mais uma vez vc arrasando! Ah eu faço terapia e vou contar um segredo: no começo achava coisa de doido, mas hj AMOO fazer!!!!!!!! :)

Se cuida, querida!

Um beijo, Ra

21 de novembro de 2011 às 17:48