segunda-feira, 29 de março de 2010
Os homens que fazem nossos sonhos possíveis
Fui ver Um Sonho Possível com a Divorciada. O filme que deu o Oscar à Sandra Bullock quase me fez chorar. Mas é tão up e otimista que me fez mesmo foi é sorrir. Além dos personagens maravilhosos como o da própria Bullock, o Big Mike e o filho figura SJ – quero aquele menino para mim! – um personagem menos importante me chamou a atenção: o marido. Um cara milionário daqueles podia simplesmente ter internado a mulher. Onde já se viu, levar um baita homenzarrão daqueles, de procedência absolutamente desconhecida, que mal fala, para dentro de casa? Com duas crianças pequenas? Qualquer um acharia que a mulher tinha pirado de vez.
Claro que ele vai cedendo aos poucos, conforme as situações vão se apresentando. E como conhece a mulher, confia na intuição dela. O resultado poderia ter sido desastroso. Mas é mais que feliz. Big Mike é uma Cinderela versão masculina e negra.
Isso me fez lembrar uma história que aconteceu comigo há uns anos atrás. Em 2006, eu “adotei” uma menina do interior de Minas. Cuidava dela a distância. Ela era de uma cidadezinha perto de Teófilo Otoni e sua situação era aquele típico retrato da miséria brasileira: pai preso, mãe desempregada, irmãzinha com fome. Tudo começou porque ela mandou uma carta para a Revista Época, onde eu trabalhava naquele momento, pedindo ajuda para comprar material escolar. Eu roubei a carta para mim porque sabia que ela seria jogada fora.
A carta era de uma dramaticidade até exagerada para uma menina de oito anos. Mas era muito bonitinha. Como era Natal (de 2005), ela contestava a existência de Papai Noel e dizia que ele só existia para crianças ricas. Fiquei arrasada. Comprei o material escolar dela e enviei por Sedex. Depois disso, foram dois anos de correspondência intensa. E volta e meia lá estava eu comprando livros, cadernos, bonecas, mochilas e até uma chapinha de cabelo para a mãe dela ganhar um troco. Em retribuição, ela me mandou uma caneta que o pai dela fez na cadeia na qual estava escrito “Jesus te ama”. Guardei na minha caixinha de preciosidades sem nenhum valor.
Um dia, Charlie falou – tirando o maior sarro – que era capaz de eu trazer aquelas meninas para dentro de casa. E que nossa casa poderia se tornar um mini acampamento do MST. Fiquei triste e fui conversar com ele. Perguntei se ele achava que aquilo tudo era mesmo uma grande besteira. Se o fato de eu estar sempre atendendo os pedidos da menina era ruim, um ato estúpido, de gente culpada. Se eu estava me iludindo que aquilo poderia estar fazendo alguma diferença na vida delas. E se ele me achava meio inconsequente por trocar cartas com meninas desconhecidas, com o pai preso, usando o endereço de casa.
Ele me olhou cheio de ternura e disse: claro que não. Se você confia que esse é um bom caminho e que está fazendo alguém feliz, eu confio em você e sei que você está fazendo isso porque realmente acredita. Honestamente não sei como ele reagiria se de fato um dia eu as levasse para casa. Talvez não concordasse com algo tão radical. Talvez me expulsasse de casa com elas, rs. Mas ele confiar na minha intuição foi uma prova de amor linda.
Pouco tempo depois, elas pararam de me escrever. Não responderam mais. E minha vida também virou uma confusão. Mas acredito que aquele encontro por cartas teve sua razão de ser durante aqueles dois anos.
Débora – A Descasada
Claro que ele vai cedendo aos poucos, conforme as situações vão se apresentando. E como conhece a mulher, confia na intuição dela. O resultado poderia ter sido desastroso. Mas é mais que feliz. Big Mike é uma Cinderela versão masculina e negra.
Isso me fez lembrar uma história que aconteceu comigo há uns anos atrás. Em 2006, eu “adotei” uma menina do interior de Minas. Cuidava dela a distância. Ela era de uma cidadezinha perto de Teófilo Otoni e sua situação era aquele típico retrato da miséria brasileira: pai preso, mãe desempregada, irmãzinha com fome. Tudo começou porque ela mandou uma carta para a Revista Época, onde eu trabalhava naquele momento, pedindo ajuda para comprar material escolar. Eu roubei a carta para mim porque sabia que ela seria jogada fora.
A carta era de uma dramaticidade até exagerada para uma menina de oito anos. Mas era muito bonitinha. Como era Natal (de 2005), ela contestava a existência de Papai Noel e dizia que ele só existia para crianças ricas. Fiquei arrasada. Comprei o material escolar dela e enviei por Sedex. Depois disso, foram dois anos de correspondência intensa. E volta e meia lá estava eu comprando livros, cadernos, bonecas, mochilas e até uma chapinha de cabelo para a mãe dela ganhar um troco. Em retribuição, ela me mandou uma caneta que o pai dela fez na cadeia na qual estava escrito “Jesus te ama”. Guardei na minha caixinha de preciosidades sem nenhum valor.
Um dia, Charlie falou – tirando o maior sarro – que era capaz de eu trazer aquelas meninas para dentro de casa. E que nossa casa poderia se tornar um mini acampamento do MST. Fiquei triste e fui conversar com ele. Perguntei se ele achava que aquilo tudo era mesmo uma grande besteira. Se o fato de eu estar sempre atendendo os pedidos da menina era ruim, um ato estúpido, de gente culpada. Se eu estava me iludindo que aquilo poderia estar fazendo alguma diferença na vida delas. E se ele me achava meio inconsequente por trocar cartas com meninas desconhecidas, com o pai preso, usando o endereço de casa.
Ele me olhou cheio de ternura e disse: claro que não. Se você confia que esse é um bom caminho e que está fazendo alguém feliz, eu confio em você e sei que você está fazendo isso porque realmente acredita. Honestamente não sei como ele reagiria se de fato um dia eu as levasse para casa. Talvez não concordasse com algo tão radical. Talvez me expulsasse de casa com elas, rs. Mas ele confiar na minha intuição foi uma prova de amor linda.
Pouco tempo depois, elas pararam de me escrever. Não responderam mais. E minha vida também virou uma confusão. Mas acredito que aquele encontro por cartas teve sua razão de ser durante aqueles dois anos.
Débora – A Descasada
10 comentários:
Adorei, amiga. O filme e o seu texto.
29 de março de 2010 às 00:16Assim como Sandra Bullock em Um Sonho Possível, vc tb é uma mulher que quebra barreiras por ter um coração gigante. E eu te admiro muito por isso.
Beijão,
Bela - A Divorciada
Se a gente já faz uma diferença enorme na vida de muitas pessoas sem nem saber/querer, o que dirá de gestos assim.
29 de março de 2010 às 00:29Oie... cai aki por um acaso...
29 de março de 2010 às 10:31bem... estou começando no mundo dos blogs...e assisti esse filme ontem...MARAVILHOSO...vale a pena...
bjss
TATA
Débora que interessante, vou assistir o filme prá comentar, mas, sabendo de antemão do que se trata já fiquei mais situada, vale a pena conferir e fazer reflexão sobre esses relacionamentos.
29 de março de 2010 às 10:45Bjs e ótima semana!
Eu nem me lembrava mais dessa história...mas eu achava lindo!
29 de março de 2010 às 10:50Déb, quem te conhece sabe o tamanho do seu coração.
Você com certeza mudou a vida delas, assim como muda a de todos que passam pela sua vida!
Estou com saudades.
Uma semana sem te ver já!
Buááá
Bjos
.Olívia.
Ainda não vi o filme mas achei lindo o seu texto!
29 de março de 2010 às 11:29Quem sabe a vida da menina melhorou e isso as separou tb?
É uma hipótese feliz,certo?
Beijo!
Dé, só o fato de você ter comprado o material escolar da menina e ter enviado por Sedex já é mais do que louvável.
29 de março de 2010 às 17:37Se cada um fizesse esse gesto por 1 criança, as coisas já seriam muito diferentes e melhores.
beijos, Gio
já te falei quantas vezes que te acho o máximo hein?
30 de março de 2010 às 00:58contaí mais uma!
obs. cara, vc minha amiga de infaaaancia, e eu não sabia disso! COMO PODE??? hahaha
bjo
Nossa que linda a sua iniciativa.
30 de março de 2010 às 08:59Eu faria igualzinho, sabe?!
É esse tipo de atitude - nossa - que dá sentido à nossa vida.
30 de março de 2010 às 14:18Eu deixei o filme de lado e me comovi com sua história.
Parabéns!
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