segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O dia em que nossos caminhos se cruzaram

Acho que você veio do mato. Eu vim de uma montanha japonesa. Acho que você era uma índia em outra vida. Eu, um pequeno samurai. Você fala em espíritos da floresta. Eu falo em códigos de respeito e confiança. Teu templo é uma planta. O meu é o tatame. Teu Deus é o mesmo que o meu. O sentimos de formas diferentes. Você dá nós, laços, escala árvores e viadutos. Eu uso uma espada de madeira e dou cambalhotas. Eu sou um espírito faminto de prazer, ideias, sonhos e aprendizados. Você é um espírito sedento de luz, paz e sabedoria. Você, tão grandão e magrinho. Eu, tão baixota e gordinha. Você, um menino que clica coisas. Eu, uma menina que gosta de joaninhas.

Um dia, numa pororoca do destino, o rio que você navegava desaguou no meu. E eu te descobri. E eu percebi que meu beijo é o seu beijo, que o teu suor é o meu suor. Que tua risada é a minha risada. Que o teu carinho é o meu carinho. E dois estranhos, tão diferentes, se acharam no amor. Nossos barquinhos seguiram juntos por um cadinho de tempo. Mas você teve que voltar para a floresta e continuou remando. Eu desci do meu barco e subi a montanha. De lá de cima, toda vez que um vento bate, ouço a voz doce do meu homem do mato.

Débora - A Separada

12 comentários:

Andarilho disse...

É assim a vida... Encontros e desencontros...

28 de fevereiro de 2011 às 00:21
Paulinha Costa disse...

Isso as vezes me entorpece...
Fico feliz e grata pelo encontro e não sei se posso chorar ou não pelo desencontro, tão inevitável quanto uma fruta madura que cai da árvore no natural do cicloda vida.
Podemos carregar dentro de nós sentimentos tão distintos, né?
Felicidade por ter o privilégio de encontrar alguém tão especial, resignação pelo desencontro parecer tão obviamente "coisas da vida, não era pra ser assim, juntos" e ainda pesar pelo desencontro.
Seu texto me parece feliz, apesar do desencontro, uma raridade.
Mas condiz com o que eu penso sobre pessoas raras.
Pessoas raras produzem relações raras e consciências raras sobre questões triviais.
Foi muito bom te ler hoje.
Obrigada por isso! bj

28 de fevereiro de 2011 às 00:41
SAL disse...

Acho que o que é mais intrigante entre um homem do mato e uma menina da montanha, é mesmo o que o sentimento tem de indefinivel.

Descobrir que nossa melhor imagem é na íris do nosso "oposto", é no mínimo, apaixonante!

E esse vento só irá fazer você ouvir a voz doce do moço, justamente por você ter voltado pra montanha!

Beijo

28 de fevereiro de 2011 às 00:46
Luisa Dias disse...

Que texto lindo e singelo sobre destino, diferença e encontro.
Boa semana! Obrigada pela partilha.

28 de fevereiro de 2011 às 10:19
Olívia disse...

Aii De... vc eh uma poeta!!!!

.Olívia.

28 de fevereiro de 2011 às 11:15
SIL...Jasmim Flor ... disse...

Deb adoro as coisas que vc escreve.
A vida é mesmo cheia de encontros e desencontros.
É como diz aquela frase " Quando pensamos que temos as respostas vem a vida e muda as perguntas.
"C'est la vie"
Bjsssss

28 de fevereiro de 2011 às 12:44
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Lindo! Lindo encontro.

Beijão,

Bela - A Divorciada

28 de fevereiro de 2011 às 12:49
Jú... disse...

Lindo...

28 de fevereiro de 2011 às 12:56
Bruna Angeli disse...

...encontros e desencontros. Felizmente ou infelizmente...Nem sempre estamos preparados para descermos do barco e subirmos a montanha sozinho...

28 de fevereiro de 2011 às 13:19
Anônimo disse...

A hora de dizer "Não era pra ser" é sempre muito difícil, nunca sem sofrimento...

Beijos da Solteira um tanto decepcionada

28 de fevereiro de 2011 às 14:31
Carol disse...

Deb, que lindeza, mulher! Snif snif...rs

Um beijo.

28 de fevereiro de 2011 às 16:59
Carmem Sanches disse...

Nossa, que lindo! Simplesmente, lindo!

1 de março de 2011 às 09:16