quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
"Fábio Jr. salvou meu casamento"
Ana C. é a minha depiladora. E eu sou a psicóloga dela. Aliás, ela nem deveria me cobrar o serviço porque, no final das contas, fica elas por elas. Enquanto ela manda ver na cera quente na minha virilha, desata a falar sobre o casamento meio falido, meio a razão de viver dela. Vamos aos fatos introdutórios: ela tinha 19 anos e ele 16 quando começaram a namorar. Agora ela tem 30. Eles têm um filho fofo de cinco anos. Ela é uma mulata dos olhos verdes linda que só. Até mesmo quando está naquele macacão de frentista (sim, porque ela é depiladora nas horas vagas). O marido é um negão que também não fica atrás. É motorista de ônibus.
Pois um belo dia ela chegou aqui outra pessoa. Estava inconformada. Tinha descoberto que o bonitão tinha uma amante. E já fazia mais de ano. Ficou arrasada. Se sentiu uma idiota de ter investido tanto no cara. De ter comprado tanto presente caro nos muitos dias dos namorados que passaram juntos, de ter bancado a casa enquanto ele torrava o salário dele em tênis de marca, de ter deixado de ser vaidosa porque não sobrava dinheiro nem tempo para isso.
Um mês depois, ela chega aqui em casa toda serelepe. Achei que ela tinha dado um pé no cara e descoberto que ela era mais ela. Ou então que o bonitão tinha feito algo muito nobre para ter conseguido o perdão da bela Ana C. Que nada. Ela simplesmente tinha ido ao show do Fábio Jr. E aquilo tinha mudado a vida dela.
"Depois de muito tempo fazendo tudo por ele, resolvi fazer algo por mim. Comprei o ingresso do show, que custava quase R$ 100, peguei um ônibus e fui sozinha. E nem disse para o marido onde eu estava indo. Chegando lá, sentei num lugar que dava para olhar bem para o Fábio. Quando ele entrou no palco, minha pele arrepiou. E, de repente, ele olhou para mim. E cantou para mim. E disse, olhando nos meus olhos, que eu era a pessoa mais importante da minha vida. Não tinha mais ninguém lá. Só eu e o Fábio. E eu entendi o recado. No ônibus de volta para casa, pensei sobre minha vida e decidi que não ia ser mais daquele jeito".
E não foi mesmo. Isso já faz um tempão. Quase um ano, acho. Hoje Ana C. compra sabonetinho de presente para o bonitão. Não mais uniformes carésimos do time dele. Não mais tênis e camisas de grife que ele tanto gosta. Ela comprou uma máquina de lavar porque se recusou a continuar esfregando as cuecas dele no braço. E o obrigou a pagar a escolinha do filho, porque educação de filho é coisa séria. "Meu filho não será frentista e nem motorista", diz sempre. O bonitão ganhou de presente de Ana C. um grande desprezo. Mas não por vingança ou por maldade. Mas porque ela aprendeu com o Fábio Jr. que ela precisa é gostar dela antes de tudo.
Mas afinal, por que não separar do bonitão, se o figura é tão egoísta e só pensa em gastar dinheiro com ele mesmo?
- Ah, porque ele é um bom pai...
Mas Ana C., se ele é bom pai, continuará sendo separado de você.
- Ah, porque só com o meu salário não dá para me manter...
Mas Ana C., quantas mulheres com salários tão baixos como o teu não criam filhos sozinhas porque os machos reprodutores sumiram do mapa? E ele terá que continuar te ajudando, pois o filho é dois dois.
- Tá bom! Tá bom! É porque eu amo aquele filhodaputa!!
Ah bom. Amor é mesmo um troço difícil de se trabalhar racionalmente.
De qualquer forma, Fábio Jr., o cara que não consegue ficar casado mais que um ano, salvou o casamento de Ana C. Ainda que desse jeito meio torto e meio "cada um por si", ela anda feliz da vida com a vida conjugal dela. E, principalmente, com ela mesma.
A Casada
3 comentários:
ADOREI o post, é isso mesmo! É preciso SABER VIVER! Como diz o Rei, cuidar-se e amar-se em primeiro lugar. Pois se a gente não faz isso o "bonitão" vai procurar em outra freguesia o que não vê mais em casa. Irônico? É a vida baby, por isso antes egoísta e linda de bem com a vida a uma submissa, acabada e frustrada. Vamos assumir nossa vida e SER FELIZ!
4 de dezembro de 2008 às 15:18bjs Rita
Nada como ser honesta consigo mesma. Tá certa a Ana C. !!!
4 de dezembro de 2008 às 20:36Amiga Casada,
5 de dezembro de 2008 às 14:22Não consigo parar de pensar na Ana C. E de mandar vibrações positivas para que ela consiga ver feliz do jeito que achar melhor. Mesmo que eu prefira que ela mude o disco....
Beijos,
A Divorciada
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