terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A maçã podre do cesto

Dizem que as mulheres andam muito masculinas. Mas, ao mesmo tempo, o Mundo canta aos quatro ventos o desejo de resgate da feminilidade. Não soa curiosa essa movimentação de fluxos tão opostos, com a mesma intensidade e num mesmo momento? Acho que as mulheres já foram mais masculinas.

Muitas quarentonas e cinquentonas ainda carregam essa prerrogativa, já personificada no visual yuppie dos anos 80 e na postura carreirista a qualquer custo - que inúmeras ainda teimam em adotar sem perceber ser este um jargão caricatural, esfarrapado e infeliz que não remete a idéia de Força, pelo contrário. Não esqueçamos jamais das odiosas ombreiras num terninho de corte "barril". Sua tia certamente usou um desses.... :O/

Acredito que as trintonas estejam levando as coisas de forma mais leve e inteligente, se permitindo serem mais femininas ao adotar simples práticas como a de acreditar no casamento, conjugar filhos e trabalho, ou pelo menos ter vontade de tentar, curtir cada momento de cada vez e desconstruir o Príncipe, vê-lo como ser imperfeito que é. Graças a Deus que é, né?

Ou seja, empunham independência e atitude mesmo que sobre um salto, de maneira persuasivamente (e deliciosamente) feminina. Nos últimos tempos, só há uma coisa que venho ouvindo de forma recorrente nos papos delas e que, confesso, me deixa um pouco ressabiada. O tal Pau Amigo.

A questão não é a existência dele. Quem não teve o seu que atire a primeira pedra; sem querer ou naturalmente, mesmo que só tenha se dado conta disso depois do caso acabado. ;O)

O que me encana é a forma como a coisa vem sendo instituída. O tal Pau Amigo, grosso modo desculpem o trocadilho, é aquele carinha gostoso, gato, que você sabe que não vai dar em nada (e daí? Dane-se!), meio cabeça oca mas que é uma delícia para passar o tempo. Leram bem a definição? Agora, troquem o gênero onde necessário, carreguem um pouquinho mais nas tintas e imaginem um homem falando.

Desculpem, mas o Pau Amigo é a instituição mais machista em essência surgida nos últimos tempos. E pior, é uma emulação do pensamento masculino em sua forma mais rasa.

Quando vejo as trintonas da vida replicando a mais nova instituição do pedaço do jeito que vem fazendo, me sinto rodeada por um bando de estivadores, de saias. Geralmente, os atributos físicos do gajo são os que ocupam a maior parte do tempo. São as pernas, a barriga tanquinho, as costas incríveis e o sexo maratonista que inundam o papo em detalhes, numa enumeração frenética e escalafobética das vantagens de sair com o cara.

Sempre noto nestas horas uma necessidade imensa das meninas em ficar enumerando, classificando, justificando, se demoraaaando nesta parte. Me parece uma tentativa desesperada para fugir da afirmação óbvia e simples que é "Merda, estou transando com um babaca".

Vejo brilho nos olhos pelo que me soa ser mais fantasioso que realista. Na verdade, estamos falando de uma simples trepada. Só que aos trinta e bolinha a gente sabe, ou deveria saber, que transar apaixonada - que seja ainda encantada pelo conjunto da obra sem saber direito qual é a da situação - é mil vezes melhor. Então, porque se contentar com um simples "tanquinho" classificado de Pau Amigo? Já imagino algumas dizendo: "Mas é melhor do que ficar sozinha", "O que tem de errado? Tem que ser mais aberta!". Pergunto: É? Tem certeza? Desse jeito?

Outro dia vi uma peça, A Alma Imoral, baseada no livro do rabino Nilton Bonder. Em determinado momento, a atriz interpreta um trecho no qual fala da mulher, que ela é a que traz o conhecimento, ilumina a consciência do homem e nunca deveria ter aberto mão deste papel. Pôxa, nunca mesmo. Concordo. Mas convenhamos: iluminar a consciência de um par de coxas é praticamente missão impossível. Logo, o que há para se vangloriar?

Há pouco tempo, uma grande amiga começou a sair com um gênero P.A. O cara era bem mais novo, rato de academia e os amigos faziam exatamente o mesmo estilinho. Pareciam saídos da mesma fábrica de brinquedos. Ela, sempre que me falava do assunto, repetia como um mantra o tal rótulo e mais os 1.001 atributos (físicos) do cara. Praticamente um Bombril do sexo.

Quando conheci o moço pessoalmente, ele estava com os amigos. Quase tive um ataque de riso, um deles até parecia o Falcon, aquele boneco que seu irmão já teve na infância e que possuía uma alavanca na nuca para mexer os olhos, além da barba milimetricamente desenhada. Fui salva de tamanho constrangimento da gargalhada incontrolável ao me concentrar em cortar o beirute do jantar. Ali, entendi o discurso em looping que ela fazia toda a vez que conversávamos a respeito. Era necessário muito mantra para fugir da verdade inexorável.

Ok, quer ter P.A.? Então, dispense os detalhes, não repita mil vezes as "vantagens" querendo convencer a si mesma e aos outros de que está vivendo uma incrível história de amor (mulheres...). Seja como eles em sua pior versão. Use e jogue fora. Lavou, tá novo. Não há o que falar porque não é nada extraordinário. E ponto. Abandone a prática do disco furado de histórias sobre homens que não significaram nada. É perda de tempo. Resolva suas necessidades e bola pra frente.

Ah, sim, quanto a amiga... Tempos depois a história terminou. "Tivemos uma conversa, ficou tudo bem", resumiu. Parecia que estava comunicando fim de namoro. Não resisti à piadinha: Ué, mas Pau Amigo fala?

A Solteira

4 comentários:

Anônimo disse...

Olha só,P.A nem sempre precisa ser um gato bonito e burro, mas pode ser um amigo bacana e querido prá deixar os tesões em dia.....sacou que não precisa ser machista?
bjão, a polêmica é genial.....

9 de dezembro de 2008 às 22:25
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Taí, concordo com a Sil, o PA pode muito bem ser um AP - amigo, mas que também pode ter outras serventias...

Afinal, como vc mesma diz: que mulher não tem ou nunca teve um?

A casada - que casou virgem e nunca teve um PA...

9 de dezembro de 2008 às 22:32
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Amiga Solteira,

Sacanagem falar do Falcon!!!!! Eu sempre achei o bonequinho tão gato, hahaha!!!!

Beijos,

A Divorciada

10 de dezembro de 2008 às 12:17
RITA ABEMATSU disse...

Olá Solteira, adorei o post, eu estava exatamente pensando em escrever algo do gênero, pois outro dia na novela A Favorita, rolou um papo assim com a personagem da Mariana Ximenes e uma amiga, dizendo que o ex era homem para se divertir e que o atual era homem para casar. Nós mulheres sempre odiamos esse rótulo e agora fazemos a mesma coisa? É tão mais bacana se assumir só e depois encontrar alguém bacana e curtir uma hitória. Existem homens e mulheres de todos os tipos e gostos, entretanto é surpreendente ver quando um homem se prepara e se cuida para um novo relacionamento, eles sofrem, ficam apreensivos tanto como nós ;)

10 de dezembro de 2008 às 12:28