terça-feira, 4 de agosto de 2009

Pergunte ao vento

Parte I

Uma vez, num primeiro de janeiro, eu tinha brigado com o Charlie e estava muito triste. Discutíamos por causa de Reveillon - eu estava chateada porque sempre tinha que ser do jeito dele. E quando fizemos do meu jeito, uma única vez, ele ficou de mau humor. Quando vi que aquilo não teria fim, me sentei na areia, olhei pro mar e depois fechei os olhos. Ouvi o barulho do vento e cismei que ele me dizia algo. Botei na cabeça que era Deus falando comigo. E Ele dizia algo do tipo: “Fica tranqüila, tá tudo bem, é só briga boba. Você tem amor no peito e isso basta. O local e a data são o de menos”. E o vento, ou Deus, me serenou. Guardo essa imagem na lembrança porque foi mesmo muito especial.

Corta. Próxima cena.

Parte II

Faz umas duas ou três semanas. Estava num bar bebendo com um amigo quando começamos a falar sobre coisas que “queremos ver” quando precisamos ver algo. E pirações desse tipo como a que eu tive na praia, quando “Deus falou comigo”. Aí ele citou o poema do Pessoa, em sua versão Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos”, na qual o homem simples que guarda o rebanho diz que o vento não diz nada, é só vento. “As pessoas querem mentir para si próprias”, concluiu meu amigo. Venho pensando nisso desde então. Pode ser isso mesmo. Mas no fundo, no fundo, acredito que tudo depende de como recebemos o vento. Tem dia que vai ser só um sopro no corpo da gente. E tem dia que pode ser Deus mandando seus recados. Quem pode ter certeza? Só quem para para ouvir o vento.

Corta. Que venha a poesia.

Parte III

Para quem não conhece, o trecho citado do longo poema:

Olá, guardador de rebanhos,
Ai à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?

Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois,
E a ti o que te diz?

Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram.

Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.

Débora – A Pessoa

15 comentários:

Clévia Sales disse...

Às vezes nós ouvimos só o que queremos... Mas eu penso q isso é mto válido. Sofremos menos!

Bjão!

4 de agosto de 2009 às 10:27
Roberta disse...

Belinha...é dia 19 e eu ainda não decidi como comemorar...mas findi do dia 15 estou por SP...podíamos fazer algo né...veja com as meninas!

beijos

4 de agosto de 2009 às 11:01
Letícia Volponi disse...
Este comentário foi removido pelo autor. 4 de agosto de 2009 às 11:18
Letícia Volponi disse...

Débora, acho que sou do time que escuta muito mais do que só o passar do vento e isso acalma a alma...

4 de agosto de 2009 às 11:29
Anônimo disse...

Meninas, é a primeira vez que acesso o blog de vcs, adorei! Parabéns, vou participar e no que puder, deixarei meus comentários.
Um beijão!

Ci.

4 de agosto de 2009 às 13:22
Andarilho disse...

A quem importa se foi apenas o vento ou se foi Deus mesmo naquele dia?

O que importa, o que sempre importa, é aquilo que vc sentiu.

4 de agosto de 2009 às 13:27
Patrícia Costa disse...

... O vento,O mar, até o silencio... me dizem tanto...
Talvez seja uma maneira do meu anjo da guarda se comunicar comigo... Ou talvez seja uma "farsa" que eu insista em acreditar... Mas o que vale é que ouvir o vento, o mar e o silêncio me fazem bem...

Bjitos!!!

4 de agosto de 2009 às 13:48
Anônimo disse...

É por isso que eu sempre digo:

Vento, ventania
Me leve para
As bordas do céu
Pois vou puxar
As barbas de Deus...
Vento, ventania
Me leve para
Os quatro cantos do mundo
Me leve prá qualquer lugar
Hum! Me deixe cavalgar
Nos seus desatinos
Nas revoadas
Redemoinhos...
Vento, ventania
Me leve sem destino
Quero mover
As pás dos moinhos
E abrandar o calor do sol
Quero emaranhar
O cabelo da menina
Mandar meus beijos pelo ar...

4 de agosto de 2009 às 17:07
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Amiga,

Tenho certeza de que vc ouviu a verdade naquele Ano Novo. Pense assim.

Beijão,

Bela - A Divorciada

4 de agosto de 2009 às 20:24
Anônimo disse...

Nossa Deb me identifiquei muito com a parte I. Sempre na virada do no era um peso, uma briga e um estresse. Pela primeira vez em muito tempo não senti isso esse ano.
Lindo o poema!
Beijos
Cris

4 de agosto de 2009 às 21:36
Anônimo disse...

Há sempre uma resposta quando paramos para ouvir. Ela pode vir num poema, numa música, na conversa com alguém, na Bíblia - para aqueles que lá procuram. Basta que prestemos atenção. O problema é que, quase sempre, prestamos atenção em tudo, esperando apenas que venha a resposta que nós mesmos já formulamos... e às vezes até damos um empurrãozinho para que ela venha mais rápido. E isso não é parar para ouvir.

Adoro Fernando Pessoa.

Beijos!

4 de agosto de 2009 às 22:01
Anônimo disse...

As vezes a gente para para ouvir o vento e ouve o que o nosso coração tem a dizer... acredito que as respostas estão dentro de nós!
Mas ouvir o mar, o vento, o anjo... é uma forma de abrir um canal para ouvir as nossas próprias verdades! Eu adoro estes momentos de conversa comigo mesma...

beijos

5 de agosto de 2009 às 11:17
Norma Vida disse...

Acredito que Deus fala conosco atraves de inspiracoes ou ideias que temos.... e sem duvida esse seu momento foi de inspiracao divina!!!

5 de agosto de 2009 às 16:35
Camila Florêncio disse...

Continuo acreditando que o vento é instrumento de Deus e de quem precisa falar com a gente... Certa vez, há pouco mais de três anos, uma pessoa muito querido usou o vento para me abençoar!

E não há poema no mundo que desminta o que eu disse e o que senti naquele dia!

5 de agosto de 2009 às 16:39
RITA ABEMATSU disse...

Lindo, não conhecia esse seu lado tão poeta.

As melhores criações surgem em momentos assim, de muita reflexão, melancolia, uma certa solidão... Mas no fundo, uma certa paz, ou um turbilhão de coisas que precisam sair e explodir para fora de ti.

Bjs

5 de agosto de 2009 às 23:18