domingo, 15 de agosto de 2010
Tristeza e globalização
Olha ela aqui outra vez. Agora, nossa colaboradora VIP, a Solteira à procura de um novo grande amor, escreve sobre tristeza. Sobre o direito de ficar triste. Mais uma vez, super obrigada pelo texto, queridona.
Beijo grande, apareça,
Isabela – A Divorciada
Ando meio triste estes dias, como todo mundo às vezes fica triste. O problema é que encasquetei com a raiva que ao mesmo tempo sentia por estar triste e fiquei tentando entender o porquê. Pensei tanto que até esqueci por que mesmo estava triste. Mas o problema é que fiquei ainda mais revoltada com a conclusão que cheguei.
Se não bastassem todas as obrigações que a vida nos impõe, a gente ainda precisa mostrar que é feliz. Esta coisa virou uma obrigação mesmo. Apenas sorrir está na moda. Tristeza é demodé. Aí, fica todo mundo perdido, sem saber quem realmente está triste e precisa de ajuda. Porque quem está triste de verdade tem medo de dizer e pedir socorro. O que iam pensar? “Oi, tudo bem? Tudo bem.”
Hoje, no início da noite, estava realmente triste, parecia que até ia chorar, credo! Aí chegou o chefe (um dos) e tive que abrir um sorrisão, daqueles super espontâneos, sabe? Até saiu um som do sorriso. Outro dia estava p. da vida com não lembro o quê e, como de costume, chega alguém: “Melhora esta cara”. Ou então: “Passa um batom”. Eles são os fiscais desta lei velada de irradiar bem-estar 24 horas por dia, 365 dias por ano.
Beijo grande, apareça,
Isabela – A Divorciada
Ando meio triste estes dias, como todo mundo às vezes fica triste. O problema é que encasquetei com a raiva que ao mesmo tempo sentia por estar triste e fiquei tentando entender o porquê. Pensei tanto que até esqueci por que mesmo estava triste. Mas o problema é que fiquei ainda mais revoltada com a conclusão que cheguei.
Se não bastassem todas as obrigações que a vida nos impõe, a gente ainda precisa mostrar que é feliz. Esta coisa virou uma obrigação mesmo. Apenas sorrir está na moda. Tristeza é demodé. Aí, fica todo mundo perdido, sem saber quem realmente está triste e precisa de ajuda. Porque quem está triste de verdade tem medo de dizer e pedir socorro. O que iam pensar? “Oi, tudo bem? Tudo bem.”
Hoje, no início da noite, estava realmente triste, parecia que até ia chorar, credo! Aí chegou o chefe (um dos) e tive que abrir um sorrisão, daqueles super espontâneos, sabe? Até saiu um som do sorriso. Outro dia estava p. da vida com não lembro o quê e, como de costume, chega alguém: “Melhora esta cara”. Ou então: “Passa um batom”. Eles são os fiscais desta lei velada de irradiar bem-estar 24 horas por dia, 365 dias por ano.
Fiquei pensando por que olhos caídos e lágrimas são tão discriminados? Afinal, como defendeu com bons argumentos Darwin, algumas emoções (incluindo a tristeza) são inatas dos seres humanos. (Traduzindo: certas emoções são universais, e não produtos da cultura. Ele conseguiu provar isso basicamente mostrando que as reações em relação a certos sentimentos são idênticas aqui e na Conchinchina - afinal, este lugar existe?)
Deveriam inventar a cota de tristeza. Pronto, você tem direito de ficar triste 30 dias em um ano, por exemplo. Poderiam até criar uma licença-tristeza. Afinal, não é nada fácil sorrir nestes dias. Proporei isso às centrais sindicais.
Chorar em público então... Isso é terminantemente proibido. Só no banheiro e olhe lá. Trate de limpar esta cara, jogar água gelada e passa um pózinho. Além de fora de moda, ficar triste gera culpa. Uma culpa globalizada.
Como posso ficar triste enquanto há centenas de desabrigados em Peruíbe por causa da chuva; outros cento e tantos mortos no Iraque; milhões de famintos pelo mundo; mulheres sendo apedrejadas no Oriente Médio; outros milhões desempregados; o urso panda em extinção; gente morrendo em queda de avião; meu avô lá na esquina sofrendo de Alzheimer; zilhões com doenças terminais; minha amiga se divorciando; crianças pedindo dinheiro nas ruas; velhos caçando latinhas nos lixos; gente dormindo embaixo de jornal; filho matando pai; menino queimando índio. E o desmatamento? E o aquecimento? E o descaramento? Egoísmo, cinismo, banditismo! Malandragem, lavagem, galinhagem! Guerra, sem-terra, favela!
Por que mesmo eu estava triste?
Mundo, me deixe em paz, embora triste. Isso passa. Aí, volto a tentar te salvar.
A Solteira à procura de um novo grande amor
7 comentários:
Pode parecer loucura mas hoje mesmo eu conversava com uma amiga sobre isso. Parece que hoje em dia é proibido ficar triste, se decepcionar, chorar, e tudo mais.
15 de agosto de 2010 às 04:11Tu é obrigado a estar (ou a fingir) felicidade e se a tristeza vier, todo mundo se afasta de ti como se estive contaminada com o vírus ebóla.Ninguém se importa mais com os problemas alheios (deve ter gente que pensa que isso "pega"), ninguém mais pergunta se pode te ajudar ou se você quer um ombro amigo. Parece que essas pessoas perderam a capacidade de ajudar... não tem mais empatia alguma.
Olha, o mundo sempre teve motivos para nos fazer chorar... quando vejo bicho abandonado eu morro de dor, choro, me sinto péssima... mas eu aprendi que infelizmente ficar triste não adianta nada.Então, eu faço algo pra ajudar, e caso não possa ajudar (em casos do tipo, como uma notícia que li outro dia, da mulher que antes de morrer de câncer, com 36 anos, se virou para arrumar uma família nova para seus 4 filhos) eu rezo pela pessoa em questão.
Pode parecer simplista mas dá muita paz e faz a gente perder essa tristeza. Agora, se tu fica triste por algum problema então procura resolver, conversar com sua família ou terapeuta. Ajuda muito !
Eu gosto muito de ouvir as pessoas e me sinto feliz quando me dizem "Poxa, Hanny, depois que conversamos fiquei melhor..." é tão gratificante ! Não entendo como pode ter gente que não gosta de ajudar... vai entender !
E a tristeza tem sempre uma esperança
15 de agosto de 2010 às 09:14De um dia não ser mais triste não.(V. Morais)
Se não fosse a tristeza, não haveria samba, alegria
Linda, essa questão é complicada, depois de muito tempo percebi que não vale a pena esconder os sentimentos, aliás sou uma pessoa tão transparente hoje que sempre que preciso esconder um sentimento fico na maior saia justa.
15 de agosto de 2010 às 10:38Aprendi depois de anos que passei onde aprisionei meus sentimentos e eu nem mesmo sei aonde, levei anos para recuperá-los, havia chegado a um ponto onde não sentia mais nem alegria e nem tristezas, isso não foi bom mas consegui me recuperar me redescobrir, hoje sou uma nova mulher, costumo dizer que sou uma Fenix eu renasci das cinzas.
Agora não escondo mais o que sinto se quero chorar, choro e muito, se quero rir dou altas gargalhadas.
Descobri também com isso que existem ainda pessoas que se importam com a gente, outro dia mesmo recebi um telefonema e na hora as lágrimas correram, estava no trabalho e logo duas colegas de trabalho vieram ao meu encontro para conversar e me dar apoio, isso ainda existe sim, só que não é mais comum as pessoas se importarem com as outras, infelizmente.
Amiga sinto pela sua tristeza, eu também neste exato momento estou curtindo a minha fui rejeitada por alguém de diz gostar de mim mas não tem coragem é cheio de conflitos, mas tudo bem tudo na vida passa e dias melhores virão.
Xeiro!
Oi solteira!!
15 de agosto de 2010 às 14:05Também sou super a favor da liberdade de expressar os sentimentos. Chamo de momentos de introspecção. Mas passo pela mesma pressão de responder o "o que você tem?"..."nada não. só estou pensando na vida". Agora tente passar por este dia numa sala em que você é a ÚNICA mulher... Aí sim... No meu caso, eles me tratam como rainha! hahahaha
Beijo solteira
Beijo meninas
Beijoooo Bela
Kézia
Sou totalmente a favor da licença-tristeza. ;)
15 de agosto de 2010 às 14:42Fabuloso!
15 de agosto de 2010 às 16:26Solteira, na verdade, acho que o problema é que as pessoas acham muito difícil saber lidar com as diferenças do outro, daí o esforço de enquadrar todo mundo para que nos tornemos iguais. É estranho, mas temos essa tendencia de nos constranger com a dor do outro, nesse caso a tristeza, tendemos a nos sentir impelido a fazer algo e talvez surja daí esse impulso em tentar vê-lo feliz. Não pelo outro em si, mas por nós mesmos.
15 de agosto de 2010 às 20:23Ao longo de nossas vidas construímos conceitos como a tristeza é algo ruim, toda mãe é boa e toda mulher quer ser mãe, Viver sozinho é ruim, toda mulher quer casar e por aí vai... Pra tudo na vida, existe um certo ou errado, segundo nossos conceitos e parãmetros, mas alguém realmente sabe o que é certo ou errado? Porque ainda não consegui descobri e espero nunca chegar a essa conclusão!
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