quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sete anos de um amor platônico

Esta história chegou a mim esta semana:

Tudo começou no trabalho. Só depois que ela se separou e voltou a “olhar para os lados” é que reparou no quanto ele a olhava. Como ele ocupava um cargo muito superior e era casado, a aproximação demorou alguns meses para acontecer. Mas como poucas forças são tão poderosas quanto dois sexos que se atraem, acabaram iniciando uma conversa, em uma noite de pizza num dia de expediente estendido. Foi a porta para ele tomar coragem e telefonar para o ramal dela inventando um assunto qualquer. As ligações foram se tornando cada vez mais frequentes e longas e migraram para o celular. Era nítido o nervosismo de ambos. As mãos dela suavam ao ouvi-lo e a voz dele tremia do outro lado. Era um nervosismo excitante por causa do proibido, misturado à delícia de se sentirem vivos novamente. Há muito tempo não sabiam o que era aquele frio na barriga e aquela vontade incontrolável de tocar em alguém.

Em alguns meses, tomaram coragem de se encontrar escondido em uma rua escura dentro do carro. Foi como um encontro de adolescentes se escondendo dos pais, com direito a mãos geladas e boca seca. Os encontros se repetiam pelo menos uma vez por semana, sempre escondidos. Os telefonemas dele agora aconteciam pelo menos três vezes por dia. Ele a acordava e lhe dava boa noite. E chegava a passar em frente aos lugares que ela frequentava só para vê-la mais um pouquinho. E talvez experimentar indiretamente o gostinho de uma liberdade que virou algo inatingível depois de 15 anos de casamento e dois filhos. Só houve sexo uma vez, em uma atmosfera tão nervosa que foi difícil desfrutar do lado bom. Eram muitos pensamentos sobre certo e errado, além do medo de serem julgados.

Apesar dela estar agora livre para viverem aquele amor, ele não demonstrava essa coragem. Até que ela se apaixonou por outra pessoa. Mas ele nunca se libertou. Sentia uma necessidade inconsciente de saber o que ela fazia, se estava bem, de ouvir pelo menos alguns minutos da sua voz. Os contatos diminuíram por cerca de um ano. Ela tentou incontáveis vezes explicar que não queria alimentar uma história que não podia se concretizar, muito menos ser uma sombra na vida dele. Também não queria se prejudicar no emprego. Ele demonstrava querer garantias de que ela seria dele, mas ela sempre se recusou a dar. Cansava muitas vezes da repetição daqueles telefonemas, daquela dependência que ele desenvolveu em saber da sua vida. Ela se mudou de cidade, mas ele conseguiu descobrir seu telefone e aos poucos se aproximou de novo. Inúmeras vezes ela não atendeu suas ligações, mas tem vezes que está frágil e acaba dando ouvidos às suas histórias repetitivas. Ele fala do trabalho extenuante, dos filhos e lembra e relembra os poucos momentos que tiveram juntos. Mas na maioria das vezes mais quer ouvir do que falar, acha a vida dela muito mais fácil e cheia de emoções.

Ela já se cansou há muito tempo e se sente mais fazendo uma boa ação do que falando com um amigo. Sabe que esse amor platônico não se tornará realidade. Já são sete anos de um relacionamento que não tem nome, nem teve começo, nem teve final. E que se resumiu a alguns encontros dentro de um carro, uma tarde em um motel, milhares de telefones, emails e histórias compartilhadas.

A minha humilde explicação para a história é que ela se tornou como um portal para um mundo que ele tem vontade de estar. Se sente acorrentado dentro de uma família tradicional, onde casamento é uma decisão para todo o sempre. Não tem forças para romper as correntes, nem coragem para se libertar desse padrão. É também egoísta, por alimentar uma história que não pode viver. Tem medo de ser julgado pela sociedade, medo de ficar sozinho, medo dele mesmo. É, no final das contas, um pobre covarde, que precisa se alimentar da vida de outro para se sentir vivo.

Patrícia - A Solteira

15 comentários:

Anônimo disse...

nossa que linda essa história.... mas alguem ai parou pra pensar no lado do "zé" com quem nossa amiga viveu os 15 anos de casada, sendo que praticamanete a metade dele dividido com o "amor platonico" dela ??? sempre vemos a parte linda das histórias... mas esquecemos da parte feia... dos "zés" e "marias" que sofreram com as consequencias... vou sugerir que todos assistam ao filme "ponto de vista" e aprendam a contemplar a situação num todo e não apenas a parte que lhe convem ! sinto pena do pobre "zé" que dividiu sua ex durante esse tempo todo com o seu rival "amor platonico" e para a nossa amiga procurei palavras para descreve-la mas fiquei em duvida...

4 de novembro de 2010 às 00:37
Anônimo disse...

Acho que esta parte não ficou muito clara. O "Zé" só durou um ano rs. Valeu pelo comentário.

Patrícia

4 de novembro de 2010 às 00:45
Anônimo disse...

releia a história novamente querida... a história se desenrola durante sete anos e diminuiu o ultimo ano...

4 de novembro de 2010 às 01:01
Andarilho disse...

O melhor que ela tem a fazer é cortar tudo de vez com o platônico. É até meio maldade ficar falando com ele, porque ele já mostrou que não vai mudar e tem muita coisa errada com ele.

4 de novembro de 2010 às 09:16
Carmem Sanches disse...

A história é bem comum e frequente e normalmente são os homens que não largam a segurança do casamento sólido, mas infeliz, para se aventurar num sentimento que pode ser forte, verdadeiro, mas não durar tantos anos, nem render juras em frente a um altar.
Só que os anos passam e a mulher não espera, segue suas emoções, quer mais, quer um companheiro para todos os momentos e não se contenta com migalhas (algumas), e seguem suas vidas, deixando o homem covarde na janela, só espiando.
Afinal, o que é a estabilidade?

4 de novembro de 2010 às 09:40
Unknown disse...

Não se entende os amores...ainda mais os platônicos. Sempre inventamos e alimentamos os nossos sonhos.

4 de novembro de 2010 às 11:49
Le disse...

Me deu ate um mal estar ao ler! Que aflicao!

4 de novembro de 2010 às 12:07
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Eu confesso sentir um pouco de pena desse cara.

Pq ele criou um personagem tão sólido do qual não consegue se desvencilhar. E deve ser meio sofrido pagar de marido perfeito, com família perfeita, admirando o desprendimento da mulher por quem ele foi, ou ainda é, apaixonado.

Ela, mais que certa, caiu fora logo.

baccios

deb

4 de novembro de 2010 às 12:38
Bruna Angeli disse...

Já diria meu Adorável Chico Buarque

"Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz; E atrás dessa mulher; Mil homens, sempre tão gentis"


Adóroo!!

É bom ouvir esses relatos por que na maioria das vezes nós mulheres que sofremos mais.

4 de novembro de 2010 às 16:14
Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Patrícia, gostei muito do texto e cheguei a conclusão que tem gente que complica mais a vida do que ela já é.

bjs

4 de novembro de 2010 às 17:04
Blog Sozinha ou Acompanhada disse...

Oi Patrícia,
Esta história é muito mais comum do que queremos admitir! Não necessariamente com os mesmos detalhes e significados, mas pessoas acorrentadas em relacionamentos platônicos e tristes. E muita gente sofre mas vítima ninguém é! Todos assumem seu papel!
beijocas,
Mari

4 de novembro de 2010 às 22:38
Evelin disse...

História muito comum mesmo, como disseram. Acredito sempre, que homem é covarde frente a uma mulher. Excelente ponderação no final do texto. E a personagem principal fez o que devia ter feito, coisa que a maioria, que é covarde consigo mesma, não faz este ato que é sinônimo de felicidade.

Beijos

5 de novembro de 2010 às 10:23
Fernanda disse...

Patrícia, aprendi a acreditar no fluxo das coisas, sabe? Não adianta, as coisas acontecem quando e como têm de ser... vai ver os 2 se encontraram justamente pra darem uma balançada um na vida do outro... mesmo que a relação deles não tenha dado certo, serviu pra alguma coisa, certo? Logo depois ela se apaixonou. E ele, comprovoyu que não tem coragem suficiente pra mudar de vida...

5 de novembro de 2010 às 13:22
Anônimo disse...

História incrivelmente parecida com a minha... Mas no meu caso, não chegou nem a rolar sexoe na época eu estava noiva. Ainda nos falamos por telefone de vez em quando, mas não deixo que ele fale sobre como está triste no casamento, dos filhos e etc. Hoje estou noiva, planejando casamento e ele não teve coragem de se separar. A única coisa boa da minha história foi que eu descobri que não gostava tanto assim do meu ex-noivo e terminamos.
No fundoi desejo que ele se acerte com a esposa e me ligue somente como amigos que éramos antes.
bjus...

8 de novembro de 2010 às 11:40
SIL...Jasmim Flor ... disse...

Essa é mesmo mais comum do que imaginamos, e não acontece só com os casados que se acomodam, e não tem coragem de mudar o rumo de suas vidas, e vivo algo semelhante com um homem solteiro, que é vinte anos mais novo que eu, sou sepsrada e meu envolvimento com esse rapaz nunca passou ao campo do concreto, por que ele não tem coragem de tentar. Se isola numa redoma com medo do mundo, diz que nunca vai ser feliz e coisas assim. Usa a internet para expressar seus sentimentos, parece que algumas mulheres tem algo que atraem esse tipo de homem, creio que principalmente as mais independentes por representar aquilo que eles gostariam de ser.
Mas um dia a gente aprende a se manter afastada de tipos assim que só querem se alimentar da nossa energia.
Xêro!!!

8 de novembro de 2010 às 17:17