domingo, 5 de julho de 2009

Mulheres que amamos amar: Simone de Beauvoir


Eu pedi e ela atendeu. Nossa convidada de hoje, a super leitora Márcia Albuquerque, escreveu exclusivamente para nós um texto sobre Simone de Beauvoir, ícone do feminismo e, por um milhão de motivos, uma figura inspiradora para todas nós. Ah, para quem não sabe, Márcia é uma professora alagoana chiquérrima, uma mulher poderosa sobre quem eu ainda quero falar muito aqui. Obrigadíssima, querida. Beijo grande, escreva sempre.

Isabela – A Divorciada

Sempre penso com muita admiração sobre a escritora francesa Simone de Beauvoir. Mesmo com aquele ar compenetrado, beirando a austeridade e de poucos sorrisos (ao menos para o grande público), fez tantas coisas marcantes para nós, mulheres que viemos depois dela, que passou a ser um divisor de águas, historicamente falando, para o movimento feminista no século XX. Pense numa pessoa inspiradora!

Ela chegou pra mim lá pelo comecinho dos anos 80, quando caiu em minhas mãos um livro delicioso de se ler: Memórias de uma moça bem comportada. Trata-se de um livro autobiográfico, lançado no final da década de 50 e que me tocou pelas opções ousadas feitas pela escritora numa época muito mais difícil para mulheres do que hoje. Apaixonei-me por ela de imediato e fui ler o seu livro divisor de águas: O segundo sexo, onde traçou as bases do feminismo contemporâneo. É neste livro, escrito quando Simone estava com 41 anos de idade, que tem aquela frase famosa: “não se nasce mulher, torna-se.” Depois disso o mundo não foi mais o mesmo.

Sobre ela são tantas informações interessantes, que deixo aqui algumas, só pra dá uma situada na figura. Ela nasceu em Paris, em 09 de janeiro de 1908 e tinha um nome quilométrico: Simone Lucie-Ernestine-Marie-Bertrand de Beauvoir. Católica, formou-se em Filosofia em 1929 e neste mesmo ano saiu da casa de seus pais. Foi professora, romancista, dramaturga e jornalista. Ainda estudante conheceu Jean Paul Sartre, formando com ele um casal único. Tanto porque encarnaram como casal uma opção ao modelo burguês de casamento (nunca moraram na mesma casa, nunca tiveram filhos, por exemplo), como também se posicionaram politicamente sobre questões relevantes em sua época.

Foi demitida da universidade de Sorbonne por acusações nunca comprovadas e o reitor da época entendia ser difícil manter como professora uma pessoa que morava em hotéis, corrigia os trabalhos acadêmicos nos bares e discutia teóricos homossexuais em suas aulas. Mesmo sendo readmitida no pós-guerra, Simone não quis mais dar aulas. Aqui pra nós, quem perdeu foi a Sorbonne, não foi?

Na década de 50 se envolveu no movimento pela libertação da Argélia, que foi colônia francesa. Em 1971, por defender o aborto legal e seguro, assinou o Manifesto das 343, mesmo sem nunca ter passado por esta cirurgia. Defendia o trabalho como condição importante na igualdade feminina. Adotou uma amiga como única herdeira para não deixar maiores problemas com sua obra literária. Foi dependente do álcool. (Uau, ela também tinha vícios, que bom!)

Enfim, fez suas opções de vida, teve seus prazeres e suas alegrias, marcou o século em que viveu e também vivenciou tristezas, inclusive amorosas. Tristezas essas que não invalidam nem minimizam suas opções, uma vez que sua trajetória serviu de inspiração para algumas gerações de mulheres.

Como não pertenço à academia, passo ao largo das críticas feitas à sua obra e à sua vida, pois os benefícios que ela nos trouxe abatem em pleno vôo qualquer tentativa de desconsiderá-la ou querer corrigi-la. E entendo que beira o conservadorismo o uso dos argumentos que se levantam contra a ela no tocante a sua vida amorosa, principalmente quando afirmam que ela sofreu com o Sartre. Como se o fato de eles terem feito opções diferentes do convencional os isentassem do sofrimento e das tristezas, coisas absolutamente típicas, que fazem parte do ato de viver. Credo!

Salve, salve, Simone de Beauvoir.

Márcia Albuquerque

9 comentários:

3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Oi Márcia,

Adorei, viu? Inspirada por vc, vou ler Simone. E começar pelo "Memórias...", ótima dica.

Beijão e seja bem-vinda a este bloguinho,

Bela - A Divorciada

5 de julho de 2009 às 14:08
Paloma Varón disse...

Muito bom, Márcia, adorei o final. Ela sofreu sim, ela também tinha ciúmes (Cathérine Millet também, ver o novo livro dela) de vez em quando; apesar de extraordinária, ela era humana.

5 de julho de 2009 às 19:17
Joaninha Bacana disse...

Oi!
Um livro ótimo para entender mais sobre a poderosa Simone de Beuavoir é o "Tête-à-Tête - Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre", de Hazel Rowley. O livro é uma colecao de cartas trocadas entre Beauvoir e Sartre: ótimo!!!
Beijos, Angie

6 de julho de 2009 às 04:46
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Gente, gente...

se hoje já é difícil ser mulher meio fora da curva, imaginem naquela época!

Eu fiquei até com vontade de saber mais sobre ela...nunca tive vontade de ler nada, mas acho que agora encaro, rs.

Valeu a colaboração!!!

bjks

Deb

6 de julho de 2009 às 10:52
Unknown disse...

Esse blog é tudo de bom mesmo,né? Além de me divertir com os textos, aumento o meu intelecto, hehehe Beijos a todas

6 de julho de 2009 às 19:57
A letra S disse...

foi uma mulher a frente do seu tempo
ela tinha um amante a distancia naquela epoca

Estou amando esse blog

7 de julho de 2009 às 01:46
Anônimo disse...

Márcinha,
Você a-r-r-a-s-o-u, amiga!! Adorei este post!! Inspirador, mesmo, viu? Parabéns.
Beijos maceioenses,
Arara de Haia

7 de julho de 2009 às 16:25
Mariana B. disse...

Ela é demais. Eu me interessei por ela ao ler TETE A TETE que fala da historia dela com o Sartre, com cartas, bilhetes, e como era ser genio mulher naquela epoca... deste livro em diante....só lendo mesmo.
Marcia, vc resumiu tudo, existe uma vida antes de Simone e depois de Simone..

Um beijo.

7 de julho de 2009 às 20:01
Anônimo disse...

Márcia querida, fico feliz, mas não surpresa, porque seus comentários são sempre ótimos. Tive o prazer de ver Fernanda Montenegro representando o monólogo "Viver sem tempos mortos", acerca de Simome e Sartre. Realmente o casal nos dá alegrias pela coragem de viver a vida mesma, os desejos! Bela sua abordagem sobre o "direito de sofrer por amor", risos...afinal o que há de mais humano em nós??? vamos à Simone! afetuoso abraço.Mavi.

10 de julho de 2009 às 11:27