quinta-feira, 16 de julho de 2009

A hora certa de se retirar


Ontem me aconteceu uma coisa muito bacana. Fui treinar à noite e, antes do treino, me convidaram para participar de uma constelação. Não sei se você já ouviu falar disso, mas trata-se de uma dinâmica inventada por um alemão aí (me corrijam se eu estiver errada) que trabalha muito essa questão de achar o nosso lugar no mundo e reconhecer o lugar do outro. Ok, essa explicação é meio pobrinha, mas já dá para começar. Tem gente que acha a maior papagaiada. Pois eu achei um super exercício de autoconhecimento.

O meu sensei (mestre) de aikido é quem comanda a constelação. Fui só para fazer número e pensar um pouco na vida enquanto outra pessoa constelasse. Mas na hora, percebendo a minha fragilidade, ele me propôs que eu constelasse. Achei que podia ser bom.

Ele me pediu para ficar em pé e ir, aos poucos, encontrando uma posição mais confortável. Logo sentei estilo indiozinho. Ele pediu que uma outra pessoa, a Rute, se deitasse na minha frente, na posição “morto no caixão”. Nossa! Isso me incomodou profundamente. Fixei o olhar no “morto” como quem diz: sai daí, sai daí já! Disse a ele que estava incomodada e ele propôs que nós duas levantássemos e ficássemos uma de frente para a outra.

Daí a Rute foi se afastando, afastando até ficar bem longe de mim. E virou de costas. Eu não gostei daquilo. Fui na direção dela, botei as mãos nos ombros dela e fiz ela se virar para mim de novo. E fiquei sorrindo para ela, como quem tenta seduzir ou mostrar “pô, vai embora não! Eu sou tão bacana!!”. Daí caiu a ficha. Eu a obriguei a fazer um movimento que ela não queria. E ela me olhava com cara de medo. De “não quero ficar aqui”.
.
Eu entendi. E recuei. Me afastei, me afastei até ficar bem longe dela. Ela respirou aliviada e me agradeceu dizendo “obrigada, obrigada”. Eu sorri, fiquei de joelhos e fiz uma profunda reverência a ela. Agradeci por ela ter me entendido quando eu estava errada. E de ter me feito perceber isso. Daí ela se sentiu livre para sumir da minha frente. Saiu pela lateral e foi para o outro lado da sala. Sumiu do meu campo de visão deixando um campo enorme e vazio na minha frente. A pálida parede branca – o vazio – me pareceu super brilhante e receptiva à minha pessoa. Como quem diz: pode vir, o vazio não é tão ruim assim, você pode ocupar esse espaço e fazer grandes coisas aqui. E subitamente eu fui na direção da parede, do vazio, como quem tem uma meta muito clara. Avancei. Me sentindo a estrelinha mais brilhante de tooooda a constelação.

Essa movimentação me fez lembrar um texto que o próprio sensei tinha lido uma vez na aula sobre a hora certa de se retirar. E aí tudo fez sentido para mim. E eu entendi o que eu tinha feito ali durante a dinâmica. Eu quis segurar aquela pessoa que estava ali comigo de toda maneira. Não queria deixar ela ir. Mas quando eu percebi que ela queria ir, que ela precisava ir, eu soube que tinha que me retirar.

Esse texto sobre a “A Retirada” é muito lindo. Vou tentar postá-lo aqui. Mas basicamente a mensagem é essa: a gente não pode segurar nada ou ninguém na nossa vida. As pessoas ficam com a gente, em torno da gente, porque querem. Amores, amigos e até mesmo a obrigatória família. E quando não é assim, não tem porque forçar. É só recuar e deixar o outro ir. Ele já cumpriu sua função.

Débora - A estrelinha
ps: ok, esse texto é o maior delírio, mas ó...essa tal de constelação é porreta!

11 comentários:

3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Oi Amiga,

Esse texto não é delírio não! Faz todo sentido. Gostei muito da reflexão, concordo com vc.

Beijão,

Bela - A Divorciada

16 de julho de 2009 às 10:51
Regiane disse...

Gostaria de conhecer este texto!
Por um momento na minha vida tentei segurar uma pessoa... após vários sofrimentos permiti q ele se retirasse...
Permitir q alguém (q a gte quer muito!) se retire de nossa vida é um ato de respeito e coragem.

Faz um ano q me separei e várias vezes me identifico com vcs.

Bjocas

16 de julho de 2009 às 12:09
Verônica disse...

Muito interessante Deb...

Eu curto muito esses exercícios, essas dinâmicas de grupo, pq nos fazem refletir de maneira mais relax... sem o peso da reflexão.

Permitir que alguém vá, qdo nós queremos ou precisamos da companhia dessa pessoa é muito, muito dificil mesmo.

Parabéns estrela Deb por ter achado seu lugarzinho na constelação da vida.

Beijos!

16 de julho de 2009 às 12:55
Andarilho disse...

Não achei delírio não. Foi uma experiência muito boa a sua que vc dividiu aqui.

Mas que às vezes, deixar as pessoas irem é difícil, isso é.

16 de julho de 2009 às 13:43
3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Dé, queria fazer esse exercício. Falando das pessoas que vão embora, algumas, são verdadeiros cometas. Mas não deixam de ter o seu brilho. Pior é ter corpo celeste desnecessário orbitando por perto, né? beijos, Gio - A Solteira

16 de julho de 2009 às 13:51
Anônimo disse...

Eu já fiz constelação e é o máximo. Tem um instituto no Tatuapé que é super sério: Instituto Evoluir. Delmar é a pessoa indicada!

16 de julho de 2009 às 15:21
Patrícia Costa disse...

Adorei isso, quero conhecer o texto...
Será que em Fortaleza tem "constelação"??????
Vou procurar saber...
Não é nada fácil permitir q alguém de quem gostamos se retire de nossa vida... Com certeza isso é mais saudavel para os dois lados...

Abraço

16 de julho de 2009 às 15:31
Anônimo disse...

A metáfora da constelação nos ensina mesmo algumas coisas... Afinal, o que define as órbitas dos planetas? Por que a maioria deles ora se aproxima de sua estrela ora se afasta?

Sim. Pra tudo há um tempo certo. Para entrar. Pra se retirar. E para entrar novamente, se for o caso...

A pessoa que se afastou pode apenas não estar confortável naquele momento e precisa percorrer o seu "ano" ao redor da sua estrela para voltar revigorado e com um novo estado de espírito.

Afinal de contas...

O mundo dá boas voltas!!!


E não podemos descartar a possibilidade de que os caminhos se cruzem novamente. E se assim tiver que ser, a estrelinha saberá dizer amém.

Pois o universo dá jeito pra tudo.

16 de julho de 2009 às 17:45
Anônimo disse...

Adorei o texto!
Eu fazia um exercício parecido quando fazia teatro. Bons tempos aqueles...
Continue a brilhar, menina!
Beijos!

16 de julho de 2009 às 23:50
Anônimo disse...

Estou super curiosa pra ler este texto,deve ser ótimo ...Estou esperando!!!Abraços,Marta

17 de julho de 2009 às 19:59
Anônimo disse...

Boa! Conta outra dessa tal constelação. Mas sobre o morto no caixão e o indiozinho: não foi vc que mandou ela embora primeiro? não foi pelo primeiro olhar incomodado que ela foi para a parede? Claro que concordo que não se pode segurar ninguém, mas e quando é a gente que manda embora antes sem nem saber que está fazendo isso? ... Só para pensar outra situação... Grande abraço.
Isa

17 de julho de 2009 às 21:24